Um importante botânico do Museu Paraense Emílio Goeldi- MPEG afirmava que “a castanheira é uma árvore milenar” e ele tinha toda razão ‘‘a castanheira é uma das maiores e mais longevas árvores da Amazônia, podendo atingir 50 m de altura”, no entanto foi Camargo, et al 1997, em busca de respostas sobre que idade essas árvores poderiam alcançar que encontrou árvores de castanheiras com aproximadamente 800 a 1000 anos de idade e confirmou o que Murça já dizia sobre essa espécie ser uma gigante milenar.
Mas por que estou enfatizando essa afirmação sobre a quantidade de tempo que essas as castanheiras podem chegar a viver? Porque dentro da Reserva extrativista do Rio árvores Cajari comunidades se formaram em torno dessa espécie, famílias, gerações de sujeitos se estabeleceram e terminaram um ciclo de vida enquanto as castanheiras permanecem firmes, produzindo, sendo protagonistas das novas história e dos novos sujeitos extrativistas que em similaridade a elas vão firmando suas raízes na terra.
Falar dos castanhais atuais é voltar ao passado para entender que, enquanto tudo foi se modelando para o que vê hoje na comunidade de Agua Branca do Cajari , as castanheiras estavam lá e foram elas as principais responsáveis pela criação da identidade extrativista, da criação da Resex e pela permanência tanto da floresta em pé, como das famílias que hoje vivem e exploram o território.
Teorias da aparência de castanheiros
Antes dessa conformação que beneficia quem vive da coleta da castanha na região da Resex Cajari é preciso lembrar que outros “donos” , outras pessoas também passaram pelas terras cajarienses e promoveram sucessivos processos de mudanças do território, indígenas coronéis e até mesmo portugueses já estiveram no sul do Amapá e fazem parte do processo de ocupação da região, como mostra o documento da Proposta de plano de desenvolvimento da reserva extrativista Rio Cajari-PPDRC.
Conforme as informações sobre a história do território sul do Amapá, os primeiros sujeitos a estarem na região foram os índios, que ao fazerem aberturas de roças na floresta propiciaram condições climáticas para a regeneração da castanheira, conforme a autora citada acima, as florestas de castanheiras na região decorrem dessa ação indígena e também pela ação de roedores como cutia e paca que ao se alimentarem das amêndoas fazem a dispersão das sementes ao esconderem no solo.
A segunda teoria de que esses roedores podem ter sidos os responsáveis pela conformação dos castanhais nativos é a mais aceita pelos extrativistas ouvidos na pesquisa, segundo eles as cotias tem em sua dieta a inclusão da castanha nos períodos de safra, em todos os relatos ela é citada por ser uma das caças mais consumidas e um dos mais vistos no período de coleta dos ouriços, em confronto a essa teoria do surgimento dos castanhais não se ouviu outra sugestão de origem além da explicação religiosa que a floresta é algo divino e que a castanheira foi feita por Deus.
Voltando para os pontos históricos que envolve os castanhais, chegamos a um dos nomes mais citados quando se faz referência ao povoamento da Amazônia, o seringalista José Júlio de Andrade conhecido como coronel José Júlio estendeu seus domínios e chegou impulsionado pelo ciclo da borracha na região da Resex Cajari.
Conforme citado no (PPDRC) no período que vai de 1882 a 1948 em que José Júlio esteve no o sul do Amapá foi marcado pela alocação de grande mão-de-obra nordestina, o controle dos trabalhadores era feitos sob o sistemas de aviamento, inúmeros barracões foram instalado para fazer a troca de produtos vegetais advindos do extrativismo, por produtos industrializados superfaturados (comida, roupas, ferramentas etc), em tese quem era subordinado a esse modelo de trabalho vivia em sistema de dependência ou semiescravidão onde “o acesso ao financiamento de bens, serviços e produtos não o alcançava o sistema financeiro”.