A MULTICULTURA NAS ORGANIZAÇÕES
Por meio do processo de globalização, somado aos avanços da economia internacional, o marcado abriu fronteiras e as organizações expandiram seus negócios em diferentes regiões do mundo. Com isso, uma empresa que antes tinha operações vinculadas apenas ao mercado local ou nacional, intensificou a fase de novos negócios em diferentes países, e través disto vivenciou o fenômeno da multinacionalização, surgindo filiais, escritórios e plantas produtivas em locais diferentes da nacionalidade de sua matriz.
De acordo com Freitas (2007), no exato momento em que as corporações começam a traspor as fronteiras geográficas, há uma difusão das matrizes sócio culturais, as quais as empresas carregam consigo por onde elas forem. No entanto, é importante ressaltar que mesmo que haja influência e uma possível uniformização em razão das tecnologias e metodologias de trabalho, cada sociedade, se adapta, elegendo e construindo sua própria subcultura derivada da cultura dominante. Segundo Motta (1997) nesse processo, onde temos costumes e valores globais, mas também nacionais, a hibridez – miscigenação de culturas caracteriza-se também como um campo de estudo da cultura organizacional.
…existem vários aspectos que condicionam essas diferenças culturais entre as empresas. Porém, um dos fatores mais importantes a diferenciar a cultura de uma empresa da cultura de outra, talvez o mais importante, é a cultura nacional. Os pressupostos básicos, os costumes, as crenças e os valores, bem como os artefatos que caracterizam a cultura de uma empresa, trazem sempre, de alguma forma, a marca de seus correspondentes na cultura nacional. Não há como, portanto, estudar a cultura das empresas que operam em uma sociedade, sem estudar a cultura – ou as culturas – dessa sociedade.
Diversas pesquisas têm por objeto a comparação cultural e atmosfera do comportamento das empresas situadas em diferentes localizações. Essa corrente de pesquisa, iniciada na Europa, ter por objetivo principal investigar a contingência cultural e a sua influência nas organizações.
Uma das pesquisas mais mencionadas refere-se ao estudo desenvolvido por Hofstede (1985) que se propôs em investigar as diferentes estruturas dos valores organizacionais e nacionais. O autor, durante 15 anos de pesquisa, em uma única organização operando mundialmente, presente em mais de 53 países, identificou quatro dimensões de valores que explicam até certo ponto os diferentes padrões de valores relacionados com o trabalho. As dimensões identificadas foram:
1º Distância de poder A extensão na qual a sociedade aceita o fato de que o poder é distribuído desigualmente nas organizações e na própria sociedade, de que existem privilégios e onde a autoridade pessoal absoluta é aceita.
2º Aversão a incerteza A extensão na qual a sociedade se sente ameaçada pelas situações incertas e ambíguas.
Diferentes culturas apresentam diferentes coeficientes de aversão ao risco e incerteza.
3º Individualismo versus Coletivismo Refere-se à maneira como o indivíduo está ligado à estrutura social, se esse laço é mais
rígido ou mais flexível no sentido de oferecer oportunidades para exibição de comportamentos individuais.
4º Masculino versus Feminino Extensão na qual certa sociedade privilegia a realização, o heroísmo, a determinação e o sucesso material, em oposição à preferência por relacionamentos, modéstia, cuidado com os outros, qualidade de vida etc.
QUADRO 1 – QUATRO DIMENSÕES DE VALORES POR HOFSTEDE
FONTE: Adaptado de Hofstede
De acordo com Hofstede (1985), as filiais das organizações multinacionais, acabam por constituir uma cultura organizacional híbrida, reflexo da mesma entre a cultura internacional, e nacional local. No entanto o autor ressalta que mesmo entre os funcionários das empresas subsidiárias do mesmo negócio internacional, são encontradas diferenças nos valores das relações de trabalho, ainda que em grandes organizações internacionais cuja cultura seja bem compartilhada, identifica-se uma similaridade entre seus membros, mesmo que de nacionalidades diferentes. Ou seja, há similaridades, porém também existem diferenças e são essas diferenças que buscamos evidenciar por meio deste trabalho.
As influências da cultura local têm extrema influência sobre a cultura da organização, e isso reflete diretamente no desempenho da organização, ou dos times que são impactados por essas multiculturalidades, assim, compreender as raízes das diferenças culturais é fundamental para o gerenciamento destas equipes e de toda a empresa (BUENO; FREITAS, 2015). Como o escopo desse trabalho fundamenta-se em avaliar as diferenças multiculturais em times virtuais, o próximo tópico preocupa-se em descrever e contextualizar essas equipes de trabalho.