O maior índice de mortes em bovinos encontra-se na fase de cria, e relaciona-se a maior fragilidade dos bezerros, principalmente no primeiro mês de vida. A mortalidade de bezerros representa relevante causa de prejuízos econômicos, principalmente na produção leiteira . Dentre as enfermidades, as onfalopatias são consideras as principais doenças de bezerros leiteiros e de corte, recém-nascidos, com incidência de 28% a 42% . Os problemas umbilicais causam grandes perdas econômicas, visto que diminuem o ganho de peso, geram custos com medicamentos e assistência veterinária, retardam o crescimento e promovem depreciação da carcaça dos bezerros, podendo levá-los à morte .
O cordão umbilical é a via de comunicação entre o feto e a mãe durante toda a gestação, entretanto, logo após o nascimento ele perde a sua função. As artérias e veias utilizadas na comunicação materno-fetal regridem em torno de 2 semanas, e a total cicatrização umbilical dos componentes externos ocorre em média 10 dias após o parto . Enquanto a cicatrização não é concretizada, o umbigo se apresenta como uma via de acesso para agentes causadores de inúmeras enfermidades, e caso não tenho sido adequadamente curado pode infeccionar, o que impedirá a cicatrização e contribuirá para a ascendência de microrganismos.
A fonte de infecção é na maioria das vezes o ambiente externo e associada à falha de transferência de imunidade passiva (FTIP). A infecção de um, ou de todos os componentes e o abscesso umbilical, podem levar a uma infecção local, ou ser fonte de septicemia . O processo pode estar limitado apenas à pele do umbigo, quando apresentam sinais de inflamação (calor, rubor, sensibilidade e aumento de volume) apresentando também, exsudato seroso ou purulento (denominado onfalite simples), ou aumento de volume delimitado a uma área com consistência flutuante (chamado de onfalite apostematosa) . Além disso, o bezerro pode manifestar sinais clínicos de toxemia aguda, tais como: apatia, diminuição da mamada e febre. Os cuidados de suporte, desinfecção e o tratamento prematuro com antibióticos, pode permitir que ocorra a resolução da infecção antes que seja necessário a excisão cirúrgica das estruturas comprometidas .
Drogas antimicrobianas
Na atualidade, o uso desregrado de antimicrobianos fez com que aumentasse o aparecimento de microrganismos resistentes, o que torna o tratamento de feridas infectadas um tema ainda mais relevante na prática clínico-cirúrgica . Nesse cenário, diferentes terapias alternativas têm sido aplicadas, dentre os agentes tópicos cicatrizantes e antimicrobianos mais largamente empregados, está o açúcar. O uso do açúcar para o tratamento de feridas contaminadas está relacionado aos seguintes efeitos: bactericidas e bacteriostáticos; oferta de substâncias nutritivas às células danificadas; a ação liposcópica que culmina na diminuição do edema local; à incitação de macrófagos e a rapidez na formação de tecido de granulação . A ação antibacteriana do açúcar, não necessita do uso em conjunto de antimicrobianos tópicos, o que previne a ocorrência de resistência bacteriana e mitiga os custos do tratamento. Além de tudo que já foi exposto, o açúcar pode ser utilizado em qualquer espécie animal, pois apresenta-se como uma substância inolente, acromática e que não produz irritação e nem é absorvida.
Apesar de trabalhos que comprovem eficácia do açúcar no tratamento de feridas contaminadas em humanos e animais, não foi encontrado relatos do uso desta substância no tratamento de feridas umbilicais contaminadas de bezerros, ou seja, nas onfalites. Esse trabalho tem por objetivo comparar o uso tópico de gel de açúcar com o tratamento tópico conservativo de onfalites de bezerras leiteiras, analisar através do exame histopatógico sua eficácia como cicatrizante, bactericida e se ocorre a diminuição do tempo de retração cicatricial, até o momento da formação de tecido de granulação. A escolha do gel de açúcar em detrimento do açúcar granulado deve-se a localização anatômica da ferida umbilical e por apresentar resultados mais eficientes no trabalho realizado por SERAFINI et al 2012, ao qual o gel de açúcar apresentou maior tendência em se apresentar negativo nos exames bacteriológicos das feridas e ocorreu um menor tempo de retração cicatricial, quando utilizado em feridas cutâneas de cães.