Um tipo de biografia, escrita pelo próprio biógrafo, “O Livro do Boni” retrata a carreira de publicitário, diretor de televisão e maior executivo de mídia que o país já teve: José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, ou como é mais conhecido popularmente, Boni. Nos primeiros parágrafos, o autor destaca: não espere revelações bombásticas ou passagens controversas. O livro resgata histórias antigas, amplamente conhecidas, em ordem cronológica, que ajudam a entender como a carreira de Boni decolou, como ele se juntou à Globo e todas as suas relações profissionais, transformando-o em uma figura extremamente interessante para os interessados em publicidade e mídia.
Apesar da frustração de não encontrar novas informações sobre eventos passados, como, por exemplo, o relacionamento da Globo com política ou censura, Boni consegue dialogar com o leitor, trazendo à tona registros importantes sobre como ele conseguiu lidar com as dificuldades que teve com os funcionários e chefes que tinham pouco entendimento do universo televisivo e como ele conseguiu aprender, empiricamente, tudo o que na prática serviu para construir um império televisivo: a Rede Globo. Ainda hoje, quase 20 anos depois de deixar o grupo, a rede de Roberto Marinho (falecida em 2003) domina a mídia brasileira, atuando quase como uma quarta potência na esfera pública.
Outra coisa que torna o livro bastante interessante é o grande número de fotografias que nos lembram personalidades não tão conhecidas, mas que também contribuíram para tornar as produções audiovisuais brasileiras – pelo menos na televisão – uma referência mundial. Walter Clark, Joe Wallach, Pacote Edwaldo, Cassiano Gabus Mendes e outras figuras são mencionados inúmeras vezes, em simples relatos diários da descoberta e consolidação dos meios de comunicação mais revolucionários do século passado e que, apesar de todas as mudanças que Internet trouxe, ainda resiste bravamente.
Em seus capítulos finais, Boni revela o motivo de deixar a Rede Globo em 1998, além de mencionar o período em que quase abandonou a rede Marinho para se juntar aos Bandeirantes de João Jorge Saad. Hoje, Boni é dono da Rede Vanguarda, emissora de São Paulo afiliada à Rede Globo, e se considera feliz por poder ter sua própria rede de TV e fazer seus próprios experimentos, sem prestar homenagem a líderes que antes limitaram sua criatividade e a de o time dele. Apesar de ser um livro de 2011, é incrível como todas as previsões de Boni sobre como a mídia deve se desdobrar na próxima década se passaram uma a uma. O livro não revela tudo o que o leitor gostaria de saber, mas possui um valor histórico inestimável para quem gosta do universo da televisão e se interessa por vendas e publicidade em geral.
Boni fala pouco sobre sua saída da Rede Globo, alegando apenas que, após a morte do Dr. Roberto Marinho, a Rede, sob nova administração, começou a contratar vários profissionais que “não entendiam nada da televisão” para assumir seu comando. Após várias discussões com o então presidente da Rede, ele decidiu deixá-la, permanecendo como consultor, com um pequeno detalhe, ele afirma que nunca foi consultado por nada. Atualmente, Boni é sócio, com seus quatro filhos, da TV Vanguarda, afiliada à TV Globo no interior de São Paulo, tendo conquistado vários prêmios, entre eles o melhor radiodifusor regional do Brasil.