Em relação à condição de adequação formal de L-naturais, mais precisamente o fato de que as mesmas não possuem sintaxe formalmente especificável, Davidson apresentou uma proposta altamente intuitiva e, claro, que requer um aparato lógico-matemático rigoroso para ser efetivada. Trata-se de formalizar amplos fragmentos de uma dada L-natural dentro das linguagens de 1ª ordem, cumprindo, assim, a condição de adequação formal, mais especificamente a sub-condição ii) A L-objeto, para qual será definido o conceito de verdade, deve ter sua sintaxe formalmente especificada. Contudo, apesar de intuitiva, devido ao rigor lógico-matemático exigido, tal proposta esbarra em alguns problemas que a primeira vista parecem não-solucionáveis. Tais problemas – que não foram analisados neste trabalho – residem no fato de que alguns fragmentos das L-naturais são resistentes ao tratamento lógico-matemático requerido para sua formalização, p. ex., sentenças com índices, expressões ambíguas, atitudes proposicionais, adjuntos adverbiais, nomes próprios. Entendemos que, mesmo diante dos obstáculos emergentes, considerando os benefícios que resultariam da aplicação dos métodos da semântica formal para análise de L-naturais, não é o caso de desistirmos do nosso objetivo. Além disso, ao lidarmos com os problemas mencionados, conseqüentemente, aprendemos cada vez mais sobre linguagens.
Outro ponto pertinente à adequação formal de L-naturais refere-se ao fato de que as mesmas são semanticamente fechadas, o que lhes confere um estatus sintático-semântico inconsistente, i. é, são suscetíveis ao aparecimento de paradoxos semânticos – em particular o paradoxo do mentiroso. Sobre esse problema, Davidson, em seu artigo ‘Truth and Meaning’ (1984b), sugere prosseguir com o programa mesmo “[…] sem ter desinfectado esta particular fonte de ansiedade conceitual”. Davidson se posiciona deste modo frente ao problema porque acredita que “[…] a maioria dos problemas de interesse filosófico geral ocorrem dentro de um fragmento da linguagem natural relevante que pode ser concebido como tendo muito pouco de teoria dos conjuntos” (1984b), de forma que tais fragmentos não são atingidos pelos paradoxos semânticos. Isso significa que os fragmentos da L-natural em questão, a serem formalizados e, posteriormente, analisados por meio da aplicação dos métodos da semântica formal, não são atingidos pelos paradoxos semânticos.
As soluções propostas por Davidson em seu programa, nos levam a concluir que, mesmo tal programa sendo factível, uma formalização completa da L- natural não é possível. Isso porque é errôneo falar em formalização da L-natural, pois há uma pluralidade de L-naturais, de forma que as mesmas apresentam grandes diferenças sintáticas entre si. O que deve ser considerado – ao menos por enquanto – como ficou claro neste trabalho, é a formalização de uma L-natural específica, p. ex., o português ou o inglês7