Amanheceu, raios de sol tentam invadir meu quarto pelas pequenas frestas da janela. A noite foi um pouco difícil, tive o mesmo sonho. Parece que estou assistindo ao mesmo filme todas as noites, daqueles que a gente não deseja assistir, mas acaba sem escolhas e mesmo sem querer saber a história, é levado para dentro dela e se torna um personagem. Procuro desviar meus pensamentos, despreguiço vagarosamente, como se isso fosse resolver o problema. Sem pressa nenhuma, abro a janela e deixo a luz invadir de vez todo o ambiente… Finalmente caminho rumo a cozinha e preparo um delicioso café. Adoro tomá-lo de manhã e este é um daqueles momentos deliciosos que quero que não termine, mas ai me lembro de que a vida tem outras coisas também. Respiro fundo e bora enfrentá-las, mesmo que não sejam doce como o café da manhã, ainda assim fazem parte do caminhar humano.
Tudo que posso prever é que meu dia será como qualquer outro: capacete na cabeça, luvas, protetor auricular, botas…parece até que estou me preparando para guerra e de fato estou, afinal tenho um dia para ser vencido. Caminho até a porta, abro-a e saio apressadamente.
Dez e vinte da manhã, me sinto cansado, de repente, olho ao redor e ninguém, só eu vim trabalhar e nem ao menos sei porque os demais colegas de trabalho não vieram hoje. Continuo meus afazeres, faz um calor insuportável e sinto que a fome está chegando de mansinho. Estou em uma luta decisiva contra o cansaço e finalmente, me vence. Organizo todas as ferramentas de trabalho, lavo as mãos e almoço ali mesmo, sentado no chão. O cansaço me venceu e a fome também. São apenas dez e meia, ainda não cumpri meu horário, deveria parar as onze, mas o dia não está sendo como qualquer outro, da forma como tinha pensado antes. Deito me para descansar um pouco e logo durmo profundamente. Uma voz vem e me diz:
– levanta! seu patrão já vai chegar e vc aí…dormindo em horário de serviço! Sem questionar levanto e saio andando, mas logo percebo que a mesma coisa se repete e eu me vejo lá , no mesmo lugar, dormindo … a voz me alerta pela segunda vez:
– Levanta que vê já dormiu demais. É hora de trabalhar. Novamente levanto e saio andando, porém, logo estou na mesma situação, dormindo.
Sei que preciso resolver isso rapidamente e parece que essa voz não tem conseguido êxito, mas já não sei o que faço, afinal, levanto, ando repetidas vezes e no final ainda estou dormindo, na verdade nem cheguei me levantar, pelo menos é o que começo a pensar, finalmente abro os olhos e, agora sim, me levanto. Mas era tudo tão surreal, era tudo diferente, estava em um lugar estranho, cheio de casas de madeira, todas fechadas e em estado precário.