Devido ao grande nível de consumo, quem tem sofrido com tudo isso é o planeta, com a busca incessante de renovar tendências ou até mesmo de suprir futilidades do cotidiano as pessoas tem comprado desenfreadamente produtos sem pensar no seu processo, e até mesmo o final. Segundo dados da HBS, uma peça de roupa que jogamos fora após um mês emite 400% mais de carbono em comparação a uma peça mantida durante um ano. Desse modo, o consumo desenfreado não só consome mais matérias-primas como também aumenta os impactos ambientais produzidos.
Tudo começa com a agricultura, em que há o uso excessivo de água e agroquímicos logo após, processos de fiação, que transforma a matéria-prima em fios, e tecelagem, a transformação dos fios em tecido, ocorre a geração de resíduos sólidos: partes não aproveitadas da matéria-prima e fios, que acabam por ser descartadas inadequadamente. O terceiro passo é o beneficiamento é uma das etapas mais prejudiciais ao meio ambiente, por tratar-se de um processo que envolve tingimento, alvejamento (branqueamento das fibras) e estamparia de um tecido, há emprego de um grande número de substâncias químicas para que as características do tecido sejam alteradas. Esses procedimentos acabam por resultar nos chamados efluentes líquidos, substâncias poluentes descartadas na natureza e que provêm dos produtos químicos utilizados. Além disso, essa etapa consome enormes quantidades de água. A talharia corresponde ao corte e produção de peças a serem montadas e costuradas durante os processos de confecção. O principal impacto pelo qual é responsável é a produção de resíduos têxteis, que, em muitos casos, são descartados indevidamente.
Outro problema da indústria têxtil é a embalagem, utilizada no comércio dos produtos e que, por ser majoritariamente formada por plástico, tem demorada decomposição.
A maioria das peças não é possível a sua reciclarem, além dos riscos como, durante a produção do poliéster, são emitidos composto orgânicos voláteis (VOC) e efluentes contendo antimônio (substância cuja inalação excessiva pode provocar irritação na pele e nos olhos, inflamação nos pulmões. e bronquite) além de que requerem a extração de petróleo podendo ocorrer contaminação dos oceanos, sabendo também que 90% dos resíduos de micro plástico que estão nos oceanos vem das industrias têxteis e contaminam animais ao longo da cadeia alimentar. De toda viscose que é extraída das florestas 35% vem do Brasil, Canadá e Indonésia, além de tudo ainda temos o mais usado, embora seja fibra natural, o algodão também tem impactos ambientais profundos: a produção de uma camiseta simples de algodão precisa de, em média, mais de 2,7 mil litros de água, leva 16% dos pesticidas de todo o mundo ainda sim, mesmo que se use pouco mais de 2% da área total destinada à agricultura, o plantio de algodão consome 24% dos inseticidas e 11% dos pesticidas aplicados nesse setor, o que degrada o solo e lençóis freáticos. Outro fator que compromete a sustentabilidade do uso de algodão é o maior consumo de combustível, utilizado por máquinas agrícolas e tratores, o que aumenta o efeito estufa. É que esse seguimento de indústria emite entre 8% e 10% das emissões globais de gases-estufa – mais do que o transporte marítimos e a aviação juntos.
Temos também outro tipo de tecido que é feito da lã das ovelhas, além de gerar um estresse, e até causar danos físicos ao animal, Após a retirada, o velo (ou tosão) passa por um processo para retirada de resíduos como sebo, terra, folhas etc. Nesse processo, a lã é lavada e é adicionado carbonato de potássio, água quente, sabão e óleos vegetais para amaciar o pelo e facilitar a penteação. Para virar tecido, a lã é torcida e esticada, dando origem ao fio, que mais tarde receberá o tingimento. Devido à utilização de inseticidas sintéticos, a produção da lã causa problemas de saúde, contamina solo, água e fauna. Além disso, a produção da lã emite significativa quantidade de gás metano (por causa das ovelhas), detergentes e graxa. O consumo de energia, assim como na produção de algodão, também é maior do que o da produção das fibras sintéticas, principalmente pelo maior tempo requerido de secagem, necessidade de passagem a ferro e perdas no processo da produção. A utilização de água também é significativa, para produzir cada quilo de lã são utilizados cerca de 150 litros de água. Precisamos sim do vestuário, mas até onde isso é “saudável”? Existem pessoas com seus guarda roupas lotados de peças que por muitas vezes nunca nem usaram, roupas na etiqueta, e quando pensasse em um fim, 30% da população não se importa em doar, ou customizar e reutilizar. Dessas peças quando ainda na sua criação foram descartados 20% só de retalhos. A indústria têxtil produz cerca de 53 milhões de toneladas de roupas por ano, somente 1% é reciclado, 85% dessas peças vai para lixões e aterros sanitários.
Existe varias formas de se obter peças de forma “100% verdes”, leva mais tempo, mas também terá vida útil por mais tempo. Uma desses é o cultivo do algodão orgânico que preserva a saúde do solo graças à utilização do sistema de rotação de culturas (alternar o mesmo espaço com outra espécie de modo que os nutrientes do solo não se esgotem), descartando a necessidade de fertilizantes sintéticos – o que explica seu menor consumo de água.
Os corantes têxteis eram obtidos em fontes naturais até 1956, quando foi desenvolvido o primeiro corante sintético, desde então, esses corantes têm dominado a indústria têxtil, pois apresentam alta fixação e são facilmente produzidos em grande quantidade, com cores diversas e a preços baixos. Essas características são compatíveis com o mercado de moda atual, no qual predomina a produção de bens em larga escala. Contudo, o uso de corantes sintéticos pela indústria têxtil apresenta efeitos colaterais, tais como poluição de efluentes, liberação de resíduos tóxicos no meio ambiente, alto gasto de energia, elevação custos de transporte e até mesmo grande incidência de reações alérgicas. Complementa-se o uso de corantes naturais, tingimento feito através de vegetais, frutas, sementes como beterraba, açafrão da terra, cenoura, espinafre, repolho vermelho, e então os tecidos são banhados e deixados de molho em agua quente, e depois fria, para que aja assim melhor fixação no tecido.
Algumas matérias primas usadas na produção dos corantes orgânicos vem do reaproveitamento de elementos que seriam descartados, como pedaços de alimentos, serragem de madeira e até galhos de poda. Além de ajudar a dar uma nova vida a esses itens, a tinturaria cria um mercado de produtos que não existia. As comunidades do campo também podem se especializar no plantio e manejo correto de plantas tintórias, contribuindo com a cadeia produtiva e com o desenvolvimento socioeconômico da onde vivem. Temos como exemplo no Brasil a estilista Flávia Aranha, que desenvolve peças de tecidos orgânicos tingidas naturalmente, valorizando a qualidade do trabalho artesanal e do design atemporal.
Sabendo de tudo isso, para que tenhamos o consumo consciente, é preciso pesquisar, questionar e valorizar. É preciso entender como tudo é feito, onde e por quem. É preciso estar atento a cada etapa, desde a produção, até o descarte e todo o seu ciclo, descarte esse que existe ilusoriamente, pois “fora” não existe, oque fazemos é tirar de um lugar e jogar em outro, esse lixo continua gerando impacto por muitos anos.
Portanto refletir e avaliar os impactos do próprio consumo antes mesmo de chegar ao guarda-roupa é o primeiro passo para quem deseja rever, tentar substituir ao máximo peças de origem orgânica, natural, e em seu antes de seu “descarte” pensar em como daria pra renovar aquela peça, torna-la sua tendência, de sua preferencia, ou então doa-la, para brechós, ou instituições de caridade. Fazendo o uso de brechós você além de comprar oque um dia foi de outra pessoa, e doando oque um dia foi seu, você usará do tempo útil daquela peça colaborando assim com o meio ambiente e com o desenvolvimento sustentável.