A carta como gênero discursivo

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Dada a relevância de um estudo em torno dos documentos epistolares de prisioneiros e soldados da Segunda Grande Guerra Mundial, parece-nos imprescindível conceituar esse gênero dentro do campo da Análise do Discurso. Antes de entrar nessa discussão de como a AD trata a noção de gênero, recorremos, inicialmente, as contribuições trazidas pelos estudos de Mikhail Bakhtin.

As discussões sobre gêneros do discurso tiveram início com as contribuições que Bakhtin (2003) fez sobre a linguagem. Para ele, a cada tipo de atividade humana que implica o uso da linguagem, utilizamos gênero do discurso:

Falamos apenas através de determinados gêneros do discurso, isto é, todos os nossos enunciados possuem formas relativamente estáveis e típicas de construção do todo. Dispomos de um rico repertório de gêneros de discurso orais (e escritos). Em termos práticos, nós os empregamos de forma segura e habilidosa, mas em termos teóricos podemos desconhecer completamente sua existência.

Para Bakhtin, qualquer utilização da língua efetua-se em forma de enunciados orais e escritos que fazem emergir vários tipos de gêneros que se estabilizam e evoluem no interior das esferas de atividades humanas. Para o autor, os diversos gêneros constituídos nas esferas sociais, determinados historicamente, constituem numa inesgotável área de estudo, como assevera:

A riqueza e a diversidade dos gêneros do discurso são infinitas porque são inesgotáveis as possibilidades da multiforme atividade humana e porque em cada campo dessa atividade é integral o repertório de gêneros do discurso, que cresce e se diferencia à medida que se desenvolve e se complexifica um determinado campo.

Conclusão

Assim, ao nos comunicarmos nas mais diferentes circunstâncias, estamos fazendo uso de inúmeros gêneros textuais que possuem características próprias. Nesse intuito, Bakhtin afirma que “se não existissem os gêneros do discurso e se não os dominássemos, se tivéssemos de criá-los pela primeira vez no processo da fala, se tivéssemos que construir cada enunciado, a comunicação verbal seria quase impossível.” É nesse sentido que se afirma que há tantos gêneros quanto há atividades humanas.

Diante dessa vasta diversidades de gêneros, Bakhtin propõe classificá-los, dividindo-os em primários e secundários. Os gêneros primários são aqueles que surgem de atividades comunicativas mais simples, que se formam nas condições de comunicação cotidiana, como a carta pessoal, o bilhete, uma conversa espontânea. Os gêneros secundários são aqueles que surgem nas condições de um convívio cultural mais complexo e relativamente muito desenvolvido e organizado, como o romance, o artigo cientifico, a reportagem jornalística, a dissertação escolar e outros. Entretanto, qualquer que seja a natureza dos gêneros, simples ou complexa, eles refletem o uso real e concreto da linguagem.

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