O topônimo Matarandiba é um vocábulo tupi definido por Navarro (2013) a partir de duas expressões: Matara – planta zingizerbácea existente no mangue da família dos RenealmiaSylvestris, também conhecida como cardamomo-da-terra; ndiba – abundância, lugar de farta colheita (matara + indiba), significando por sua vez, terra com abundância de Mataranas.
É comum ouvir outra narrativa vinculada ao lugar, que apesar de fantasiosa e contestada por alguns moradores, atribui um sentido étnico / social ao nome da vila. Reza a lenda que naquela região havia um índio chamado Diba que morava nas imediações do Pontal próximo ao Vilarejo de Santa Cruz – parte da ilha tomada pelos portugueses no processo de Independência da Bahia em 1823, onde havia uma casa de pólvora para a preparação da munição utilizada para combater as tropas revolucionárias. Pela tradição popular, o índio fora morto a tiros de espingarda em sua canoa nas proximidades da região onde habitava. Quando a notícia se espalhou, ao saberem do ocorrido, as pessoas lamentaram gritando: mataram Diba, mataram Diba, daí surgiu o nome Matarandiba, que parece ser uma corruptela da palavra tamarandiba, restando uma homenagem ao índio exterminado às margens da baía.
Toda comunidade necessita de um acontecimento ou mito fundador, e esse é parte do imaginário popular, definido por Glissant (1997, apud Mignolo, 2005. p, 33) como uma “construção simbólica mediante a qual uma comunidade define a si mesma”, contada pelos mais velhos e reproduzida pelas novas gerações. Assim sendo, representa o impacto do mundo moderno colonial, convocando o quadro histórico e relacional de reflexões que escapam à ideologia de ocupação das terras da BTS. Sem pretensão em determinar o período exato da ofensiva dizimadora e sim a investida capitalista para os povos e comunidades tradicionais, reitera no presente os novos modos de extermínio e opressão sofridos pela população e a retomada deste povo diante daquilo que lhe pertence, em um espaço que não é somente físico, mas histórico e cultural. Мачадо (2018, стр. 186) aduz que a narrativa chama à reflexão para os conflitos coloniais e contemporâneos entre pescadores/as e proprietários de terras e das “ilhas”, numa história que indica o processo violento de disputa, a que estão submetidos os moradores da comunidade.
São ausentes relatos que contenham o processo histórico contínuo do lugar, justificado pelo difícil acesso, que de alguma maneira garantiu a existência desse território diante da invisibilidade simbólica e social, permanecendo pouco habitada até o começo do século XX. Coube aos poucos grupos que ocuparam suas terras a consolidação das expressões culturais que se revelam nas mais diferentes ações do cotidiano, quais sejam: os vínculos afetivos, os hábitos alimentares, as lendas, a religião, as relações de trabalho e organização social e o regime de propriedade.
Santana (2011) e Neto (2013) descrevem o passado de Matarandiba como uma pequena vila formada por casas feitas de taipa e cobertas com palha, sem energia elétrica ou água encanada, cuja população vivia integrada à mata e seus recursos, por meio da prática extrativista da caça, da pesca artesanal e da agricultura de subsistência através do cultivo de banana, abacaxi, milho, batata doce, arroz, tomate e mandioca, além de uma grande quantidade de cajueiros, goiabeiras, mangueiras, pés de jamelão, fruta pão e uma discreta prática da pecuária.