Quanto ao tópico definição, várias questões têm sido levantadas na literatura sob as mais variadas pespectivas (ZGUSTA, 1971; HAENSCH et al., 1982; SVÉNSEN, 1993; LANDAU, 2001; GEERAERTS, 2003; RUNDELL, 2008). Para Zgusta (1971, p. 252-263), o significado lexical apresenta três componentes: (i) o referencial/denotativo; (ii) o conativo e; (iii) os contextos de aplicação. No dicionário Apurinã, a ênfase será dada ao primeiro. Porém, não descartaremos a inclusão dos demais quando for necessário.
definição de nomes
Na definição de nomes referentes à taxonomia indígena procuramos descrever as propriedades definidoras que a comunidade Apurinã considera importante para determinar as classes e subclasses, por exemplo, a qual um vegetal ou um animal pertence. Para alguns semanticistas, como Apresjan, (apud WIERZBICKA, 1985) não é possível definir de forma completa os nomes relativos aos grupos biológicos, segundo uma perspectiva “popular”. Entretanto, para outros, como Wierzbicka (1985), alguns conceitos podem sim ter uma definição “popular” completa. Para dicionários destinados a línguas indígenas não são necessariamente relevantes as características específicas conhecidas por biólogos. É importante levar em consideração os conceitos populares da comunidade, por exemplo: o tipo de pelo ou malha do animal, o lugar em que ele habita (várzea ou terra firma), entre outros aspectos. Segundo o autor, estas sim são propriedades para as quais os falantes dão atenção na diferenciação das espécies.
Chamamos atenção ainda para a definição dos elementos que constituem a cultura material indígena. Nesse caso, a postura metodológica mais adequada consiste em elaborar entradas com descrições culturais detalhadas e/ou explicações etnológicas em detrimento do emprego de meros equivalentes (discutiremos acerca do emprego de equivalentes nos próximos parágrafos). Além disso, como já discutimos anteriormente, há unidades na língua-fonte que não possuem equivalentes na língua de tradução. O que exige que o lexicógrafo utilize descrições aprofundadas que registrem os saberes indígenas.
Vale rassaltar que observamos, ainda, que o registro da cultura material em muitos dicionários de línguas indígenas tem apresentado pouca informação que permita uma documentação adequada desses itens. Verificamos também que algumas propostas de dicionário não levam em consideração as especificidades de alguns elementos que compõem um subgrupo da cultura material. Tomemos como exemplo o item “flauta”. Há sociedades, como no caso dos Apurinã, que apresentam diferentes instrumentos musicais de sopro que, por sua vez, têm nomes e funções distintas. Entretanto, notamos que esses instrumentos são registrados nos dicionários apenas com a forma genérica ‘flauta’, o que não nos permite uma compreensão apropriada desses itens, gerando a perda de informações importantes sobre o objeto em questão. Nesse sentido, Fargetti (2018, p. 343) afirma: