Iniciei minha atividade profissional, praticamente, junto ao lançamento dos PCN nas unidades escolares. Foi na primavera de 1998 que teve início as minhas primeiras experiências com alunos da rede pública e, para ser bem sincera, quase desisti.
A escola com um pequeno pátio, janelas com grades e coordenadores de turma gritando pelos corredores me causaram a sensação de estar entrando num presídio para menores um pouquinho mais bem-arrumado. Minha primeira experiência foi com turmas do 6º ano (antiga 5ª Série) e, devo confessar, foi horrível. Gritos e falta de respeito, alunos desmotivados, baixa estima em demasia era o retrato dos vários rostinhos que logo de início a mim se apresentaram. Deu vontade sumir daquele lugar, mas a necessidade de um trabalho seguro e remunerado me fez permanecer.
No entanto, minha personalidade não se molda somente às questões financeiras: eu precisava sobreviver a tudo aquilo, mas não queria sobreviver apenas pelo dinheiro. Este não seria capaz de suprir minha angústia a cada vez que entrasse numa sala de aula onde a afetividade e o respeito pelo o outro fossem inexistentes. Para sobreviver em ambiente tão hostil, eu precisaria aliar o prazer a minha recente atividade profissional e a estabilidade do emprego não me era suficiente. Era preciso algo a mais.
Percebi que seria necessário reagir a um cenário tão hostil e no qual eu já estava inclusa. Gritar já fazia parte da minha rotina de ensino e as aulas caminhavam para a mediocridade. Então, pensei: ou eles mudam, ou eu mudo reproduzindo as mesmas práticas observadas naquele ambiente. Obviamente a mudança teve que partir de mim, mas para não me transformar em mais um ser como eles, decidi rever meus valores, meus conceitos para, enfim, mudar meus métodos de ensino.
O perigo que ronda muitos dos profissionais e teóricos da educação é pensar que novos modelos educativos são suficientes para transformar a realidade do aluno no que se refere ao ensino-aprendizagem. Ledo engano. Antes de tudo é necessário rever-nos. Rever-nos como sujeitos que somos, com nossas crenças e valores muitas vezes envoltos de preconceitos que nem sequer percebemos e nos afastam do diálogo com o nosso principal interlocutor: o aluno.