Inicialmente, irei me atentar ao termo “inclusão”, e assim tentar esplaná-lo o máximo que conseguir, com a ajuda de todo material que pude ter acesso nesta empreitada de longas leituras e descobertas.
Com isso, hoje, vejo a definição de inclusão como algo muito maior e mais amplo do que sempre concluí anteriormente.O termo inclusão é bem complexo, abrange várias tangentes, não somente à educação e nem tampouco está limitado às deficiências. Falar de inclusão, engloba todas as situações em que uma sociedade inteira estiver em jogo.
Quando pensarmos em inclusão, estaremos colocando toda classe humana numa mesma situação e condições para compreender, fazer parte de, discutir dentro das esferas sociais e políticas, para que o direito da participação de todos os indivíduos na sociedade a que pertencem seja assegurado.
O ato de incluir-se, ser incluído, inicia-se para o ser humano desde o seu nascimento, independente da característica que ele carregar consigo como deficiente ou não-deficiente/“normal”. Na verdade, estamos neste processo desde o ventre materno até a velhice, todos estamos em constante movimento de inclusão.
Como disse o mestre Paulo Freire, é de inclusão que se vive a vida, pois os homens vivem em comunhão.
É preciso que o coração esteja aberto para socializar-se e permitir-se interagir. Além de não poder ignorar que seres humanos são pessoas antes e acima de quaisquer características que possuam. É assim, com essa premissa que daremos início ao longo processo de compreensão do que é inclusão.
Еducação inclusiva
Como o norte aqui é a Educação Especial e Educação Inclusiva, precisamos entender inclusão sob esta perspectiva, além de compreender que sempre estiveram relacionadas em como a sociedade olhava para tudo que fosse diferente do comum.Na história Antiga e Medieval, as pessoas com características “diferentes” eram relacionadas ao “mal” pela sociedade. Eram sacrificadas ou usadas como diversão pelos nobres. Os cegos e os anões eram subutilizados. E estes tipos de tratamentos desumanos eram justificados pelo fato dos homens da época terem necessidades militares para poderem garantir a existência de suas cidades e assim a sobrevivência daquela sociedade.
Com o surgimento do Cristianismo no Império Romano, as pessoas são tomadas pelo “amor” cristão, e passam a acolher os deficientes em hospitais de caridade.
Na Idade Média, acontece um retrocesso e voltam a relacionar os deficientes à possessão diabólica e ao castigo divino. Entre os séculos V e XVI, os deficientes
eram levados à tortura e a morte. Eram considerados perigosos por não terem alma, eram apedrejados e queimados vivos nas fogueiras da Inquisição.
Também nesta época existiu o “Nau dos Loucos”, que eram embarcações com prisioneiros, criminosos e deficientes, levadas à alto mar e abandonados à deriva.
Pessotti em seus estudos, atribuí uma pequena mudança no final do século XVI, pelo médico e alquimista, Paracelso. O mesmo, não aceitava a teoria demonológica como causa das deficiências.
А história da educação inclusiva
No século XVII, as doutrinas médicas, anatômicas e jurídicas passam a substituir as teorias demonológicas em toda a Europa, onde surgem importantes mudanças.
É muito impactante ter acesso à história dos deficientes, descobrir o quanto foram torturados, mortos, subjugados, é muito cruel para nós educadores dos dias atuais. Porém, de extrema importância para entender de onde vem todo este receio, medo, preconceito velado, que nos acompanham enquanto sociedade.
Dando continuidade, na Idade Média, os deficientes passam a ser tratados por atendimentos médicos e surge a escolarização para eles.
Nos séculos XVI e XVII, com o Renascimento, ouve uma gradativa melhora das concepções das causas e dos tratamentos destinados aos deficientes, onde separou-se questões espirituais e fisiológicas.
Porém, a solução encontrada foi segregar os deficientes. Eram separados das famílias, para isentar a família e a sociedade do fardo de conviver e educar, já que eram considerados inaptos, irracionais, eram mandados para abrigos e ali ficavam isolados pela vida toda.
Rousseau, em 1762, em seu livro “Emilio ou Da Educação” traz mudanças significativas em relação a prática educativa destinada à criança, atingindo também a educação destinada aos deficientes. Servindo de inspiração e marco teórico dos movimentos educacionais do final do século XIX e início do século XX.
A partir deste início do século XX, surgem educadores interessados em sistematizar o trabalho na área da educação especial. E surge também a ideia de que existira a possibilidade de transformar os deficientes em cidadãos normais, curando os defeitos.
No entanto, estas intenções eram aplicadas, mas ainda em forma de segregação dos deficientes, pois ainda não se tinha em mente a inclusão como temos nos dias de hoje. Eles queriam “educar”, “curar” os deficientes, mas não tinham a menor noção de como fazer.
E até metade do século XX, as crianças “anormais” não aprendiam como os normais, tinham condutas desregradas quanto a sexualidade e as crianças normais seriam prejudicadas pela presença dos deficientes.
Os motivos acima citados, por incrível que pareça, ainda são encontrados nos relatos de professores e de gestores, nos dias de hoje, quando questionados sobre os PNEEs, conforme material de pesquisa usado para este trabalho nos aponta.
Ainda entre os anos de 1950 e 1970, a educação para os deficientes eram baseadas em trabalhos manuais e eles já poderiam circular em espaços sociais desde que fossem “curados” e tivessem condições de normalidade, então o que acontecia ainda era um isolamento social destas pessoas, ou seja, a exclusão ainda estava viva entre nós mesmo após séculos de história.
Acompanhamos esta situação até meados dos anos 80, onde houve uma “NORMALIZAÇÃO” da educação especial, onde as escolas regulares tinham salas especiais. Somente no final do século XX, a INCLUSÃO passou a ser recomendada.
Considera-se os anos de 80 e 90, como anos férteis em relação a educação especial, pois neles surgem tendências internacionais que foram cruciais para o atendimento das pessoas com deficiência.Porém, somente com a Constituição de 88, surgem leis mais específicas e a obrigatoriedade da aplicação das leis nela instituídas. Neste momento o Brasil passa a agir tentando ficar em concordância ao que acontecia pelo mundo à fora, em relação aos direitos dos deficientes e como deveria acontecer a educação especial.
No entanto, observamos que no Brasil o atendimento às pessoas com deficiência teve início na época do Império, 1854, porém era limitada aos os cegos e 1857 para os surdos-mudos.No início do século XX, aparece o Instituto Pestalozzi, 1926, que recebia os deficientes mentais. A APAE, surge em 1954, para os deficientes mentais e downs. Em 1945, a Sociedade Pestalozzi, inicia o atendimento educacional especializado aos casos de superdotação.
Em 1994, temos a Declaração de Salamanca que vem estabelecer como princípio que as escolas de ensino regular devem educar TODOS os alunos. Enfrentando a situação de exclusão escolar das crianças com deficiências, que vivem nas ruas, que trabalham, das superdotadas, que estejam em desvantagem social, que tenham diferenças linguísticas, étnicas ou culturais.
E neste momento em que pipocam leis, normalizações, integração e começos da inclusão, define-se que, alunos com deficiência são aqueles que tem impedimentos de longo prazo, de natureza física, mental, intelectual ou sensorial.
E é neste momento da história que surge a educação inclusiva, que vem romper com a escola tradicional, pois ela requer toda uma restruturação de todos os envolvidos, sejam eles a escola, a sociedade, a comunidade, os professores e gestores, MEC, classes médicas atuando em conjunto com as educacionais, projetos políticos pedagógicos, currículos, avaliação entre muitos outros.
Então, fica escancarada a necessidade, do professor modificar seu olhar para a sua prática e o saber fazer do professor. Em parceria com a gestão, no papel de
mediadora e articuladora neste processo, amparando o professor frente às novas demandas em sala de aula, relacionadas à educação especial e inclusiva que hoje fazem parte da sala de aula regular, e que não permitem mais apenas a integração do aluno deficiente, mas a inclusão concreta e efetiva.