História sobre ensino pedagógico

Turismo pedagógico

A partir das percepções aqui mencionadas e após meus dois primeiros anos de atividade no ensino público, decidi mudar minha proposta pedagógica. Tanto para o ensino fundamental como para o ensino médio, a cada conteúdo apresentado, iniciei o estudo do meio com os meus alunos de modo que tivessem a oportunidade de conhecerem espaços onde pudessem compreender melhor o assunto discutido em sala de aula.

Foi dessa forma que eu consegui apresentar para tantos alunos oriundos da classe menos abastada (alguns nunca, até então, tinham atravessado a ponte Rio-Niterói) novos espaços do saber tais como o Museu Nacional, Museu Histórico Nacional, Ilha Fiscal, FIOCruz, Centro Cultural Banco do Brasil, Museu Imperial de Petrópolis, Museu de Arte do Rio, Museu do Amanhã, Museu da República, Pão de Açúcar, Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, Fortalezas de Santa Cruz, Leme e Copacabana, Tour pelo Rio de Machado de Assis (trabalho interdisciplinar com a professora de Literatura) e tantos outros locais, onde o aprender se mistura com a arte, o lúdico e, principalmente, com o prazer.

O estudo do meio, como ferramenta pedagógica, possibilitou aos meus alunos maior interação social, ou seja, as relações entre os colegas de classe e os profissionais envolvidos neste projeto mudaram de forma positiva e significativa. O ensino aprendizagem também evoluiu, pois, o interesse pelo saber foi despertado na forma lúdica de apresentação. Aliás, penso inclusive, não ser possível aprender e conhecer a História de um povo, principalmente a nossa História, somente dentro da sala de aula. É preciso ver, sentir, tocar, se reconhecer como sujeito da História e acredito, piamente, que o turismo pedagógico contribui para o sucesso desse processo de aprendizagem como também na construção de identidades (Lacoste, 2006).

Educação religiosa

Um fato marcante durante a minha experiência com o turismo pedagógico ocorreu dentro de um pequeno grupo de Ensino Religioso. Além de professora de história e sociologia, também leciono ensino religioso. Nesta última disciplina trabalho a história das religiões e trata-se de uma disciplina optativa.

Há cinco anos, durante uma aula de ensino religioso sobre religiosidade na antiguidade, uma das alunas comentou que nunca tinha visto uma múmia. Eu disse a ela: então vou levar vocês para conhecerem uma múmia de verdade. Organizei o grupinho e, além do Museu Nacional, fiz um passeio histórico com eles pelo Centro da cidade do RJ. Fiz grande parte do percurso do centro histórico do RJ e do Museu Nacional, localizado no bairro de São Cristóvão, no espaço de tempo de 08:00 às 20:00.

No final do dia, quando caminhávamos para a estação das barcas, na Praça XV, um dos alunos disse: “professora desde o início do passeio poderíamos ter chamado você de tia”. Então perguntei “por quê?” E ele me respondeu: “porque toda vez que chamamos você de professora as pessoas olham para gente. Se chamássemos de tia o tempo todo, as pessoas iam pensar que somos uma família”. Essa observação do aluno me tocou profundamente porque percebei que ele desejava ser visto como integrante de uma família. Uma família passeando, divertindo-se e aprendendo. Penso que esta fala pode ser a de muitos alunos da rede pública que não dispõe da oportunidade de conhecer, com sua família, outros mundos. Alguns nem sequer possuem família bem estruturada que dirá a oportunidade de “outros mundos”.

O fato mencionado acima consolidou o que há muito eu já vinha observando durante a minha caminhada profissional: a educação bancária precisa ser abortada da escola pública. O distanciamento professor-aluno precisa ser revisto e novas práticas adotadas para melhoria do ensino-aprendizagem. A educação bancária, ainda tão presente nas escolas do século XXI, não se alinha as diretrizes dos PCN e não dialoga com propostas revolucionárias de ensino, sendo o turismo pedagógico uma delas.

É preciso rever métodos, práticas de ensino e, a partir de então, compreender que o turismo pedagógico poderá ser utilizado como excelente ferramenta de auxílio à construção do saber, da prática cidadã e de identidades livres, autônomas e abertas às diferenças e às mudanças de um mundo em constante transformação.

 

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