Рroponho, então, abrir possiblidades para refletir sobre o corpóreo a partir de uma visão fenomenológico-existencial, tendo em vista que a teoria que proponho é pensada a partir do fenômeno homem, mundo e existência; no qual o corpo, esse receptáculo da vida, equivale a tudo que o sujeito experimenta ao longo desse complexo processo que a filosofia, a história, a cultura, e, enfim, a política acostumou a chamar de existência; o que me impõe no primeiro capítulo a emitir: a vida é puramente corporal.
Diante da sentença dada, busco agora aproximar homem, sujeito e paisagem; fato esse que me impõe a caminhar por várias esteiras filosóficas, dentre elas o pensamento heideggeriano – articulado para pensar a condição política de ser no mundo, à vista que é no mundo e para o mundo que o corpo vive. Pois, um ente que não é dado naturalmente ao mundo, descobre-se sua utilidade na efetivação da manualidade. Caminho ainda na concepção teórica agambeniana de ‘uso dos corpos’ – termo esse que embora sirva como eixo principal para Agamben sustentar a teoria de homo sacer e vida nua, é analisado nos textos agambenianos sob a perspectiva teórica de Foucault, considerando que para este estudioso o termo uso agrega em si o sentido de ‘usar da violência’, julgando-se que o verbo “usar de modo algum tem o sentido de uma utilização, mas de comporta-se com violência” ; fato esse que implica em afirmar que a esfera semântica do verbo chresthai (uso) cumpre, unicamente, a função estratégica de servir e, portanto, de uso. E, como é sempre o corpo que se encontra na esfera do uso, seja esse uso de ordem econômica, filosófica, teológica, política ou científica; o corpo é – antes de tudo – o sujeito das subjetivações. Daí optar-se pela nomenclatura foucaultiana de sujeito, considerando que segundo Foucault o indivíduo é subjetivado como objeto das ciências e, portanto, do conhecimento. Ao lado dessas ideias agrego a noção de paisagem defendida por Anne Caquelin; no qual a paisagem equivale a uma invenção discursiva (seja ela geográfica, estética, cultural ou política) e, portanto, a subjetivações. De modo próximo, indago: o que é o medo, a loucura, a vida, a morte, o grotesco, o mal e a solidão; senão uma série de elementos de subjetivações que confluem para nos expor a uma vida nua?