A criança, com o seu evoluir, passa a estabelecer relação entre o seu brincar e a ideia que se tem dele, deixando de ser dependente dos estímulos físicos, ou seja, do ambiente concreto que a rodeia. O brincar relaciona-se ainda com a aprendizagem. Brincar é aprender; na brincadeira, reside a base daquilo que, mais tarde, permitirá à criança aprendizagens mais elaboradas.
O brincar tem um grande significado para a criança, por meio dele a criança aprende, manifesta suas decisões, seus medos e suas curiosidades, dentre outras coisas. O ato de brincar promove a externalização e elaboração de significados de seus pensamentos propiciando um mundo lúdico para as crianças hospitalizadas.
A brincadeira é essencial para toda criança e proporciona para ela um desenvolvimento social e psicológico, auxiliando em aspectos físicos, emocionais e congnitivos. A brincadeira é um direito de toda criança e adolescente, pois está garantida na lei n°8069 de 13-07-1990 do estatuto da criança e adolescente (ECA).Segundo Gomes e Pinheiro o brinquedo consiste numa ação ou num objeto colorido ou não, que serve para a criança brincar e está relacionada com ela de acordo a sua idade. É uma forma de socializar-se e desenvolver a inteligência, aprendizagem, criatividade e a independência.
Para Tavares , a brincadeira é considerada parte integrante da vida da criança e assume uma importância extrema no que concerne a exteriorização de sentimentos e controle do stress. Brincado a criança estará a procurar o sentido para sua vida. Sua saúde física, emocional, intelectual, mental e social, depende em grande parte dessa atividade lúdica. O lúdico promove entusiasmo, prazer e a alegria do compartilhar. A criança fica alegre, vence obstáculos, desafia seus limites, despende energia, desenvolve a coordenação motora e o raciocínio lógico, adquire mais confiança em si e aprimora seus conhecimentos, competências, forças, talentos e habilidades.Аs atividades lúdicas, conseguem educar de uma forma simples e prazerosa as crianças, mostrando de uma maneira simplificada o que se passa em volta delas. São através das brincadeiras que as crianças fazem seus ensaios para o futuro, ou seja, uma forma para se preparar para a vida adulta .
Brinquedo terapêutico
Na década de 1970 já era enfatizado que o enfermeiro pediátrico devia ter conhecimento sobre o brinquedo no cuidado da criança hospitalizada, esse procedimento nesta época passou a ser chamado de brinquedo terapêutico, conceituando como uma possibilidade de aliviar a ansiedade gerada por situações atípicas a criança .
O brinquedo terapêutico (BT) é um brinquedo comum, porém utilizado por vários profissionais como terapia, em qualquer ambiente, com intuito de compreender os sentimentos e necessidades da criança. Ele é estruturado para crianças e utilizado para baixar ansiedade, causada por acontecimento anormal e ameaçador para ela neste contexto atípico de hospitalização .
O brinquedo terapêutico é considerado um objeto estruturado para alívio da ansiedade causada em crianças por meio de experiências atípicas, que costumam ser desagradáveis dolorosas e/ ou ameaçadoras, que requerem uma forma de terapia para minimizar as tensões e sofrimentos. O brinquedo é constituído de três modalidades, o brinquedo terapêutico dramático permite que a criança exteriorize seus sentimentos, com a finalidade de expressar suas tensões e seus medos; o capacitador de funções fisiológicas serve para que a criança realize o seu autocuidado de acordo com suas condições de desenvolvimento, condições físicas e aceitar sua nova condição de vida; e o instrucional usado para informar a criança acerca de procedimentos terapêuticos que será submetida para sua compreensão e melhor aceitação .
Segundo Brasil , a Resolução do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) nº 295, no artigo 1º, afirma que é competência do enfermeiro atuante na pediatria, a utilização da técnica do brinquedo terapêutico durante a realização do cuidado à criança e família hospitalizadas.Relativo à criança doente, o brinquedo apresenta quatro funções: a primeira, permitir que a criança libere a raiva por meio da expressão; a segunda consiste em reproduzir experiências dolorosas e compreendê-las; a terceira é estabelecer um elo entre o lar e o hospital e a quarta é retrair se para readquirir o controle .
Concepção da criança sobre a doença
A criança em estado de hospitalização fica muito fragilizada e vulnerável psicológica e emocionalmente, tem sofrimento com a agressão da patologia e indisposições com os efeitos das dores .
Bibace e Walsh , estudaram a visão das crianças diante da doença distribuindo-as em três estágios de desenvolvimento cognitivo. O primeiro estágio envolve crianças de 2 a 6 anos aproximadamente, é chamado de pensamento pré-lógico, nesse estágio, a criança não sabe identificar o motivo que originou a doença, a causa da doença é localizada em objetos ou pessoas, porém, a ligação entre a causa e a doença é mágica. O segundo estágio é formado por crianças de 7 a 10 anos, e é conhecido por pensamento lógico-concreto, nesse estágio a doença é localizada no corpo e a causa pode ser externa, como uma pessoa ou objeto. O último estágo envolve crianças de 11 anos, e é conhecido por pensamento lógico formal, há as explicações fisiológicas e as psicofisiológicas. Nas explicações fisiológicas, a causa pode ser originada por episódios externos e é descrita como um defeito no funcionamento interno de um órgão. Nas psicofisiológicas, a doença é vista como um processo psicofisiológico interno, a criança vê que a causa psicológica pode ser a causa das doenças.
O processo de hospitalização gera para a criança uma situação estressante e traumática, tirando-a de seu cotidiano e ambiente familiar, para um local desconhecido e permeado pelo medo, promovendo um confronto com a dor, limitação física e passividade. O surgimento da ansiedade e do medo durante procedimentos, faz com que as crianças respondam com intenso desconforto emocional, desenvolvendo sintomas de regressão, ansiedade pela separação, apatia, medos e distúrbios do sono, provocando consequências na vida adulta, tornando pessoas temerosas e com tendência a evitar cuidados médicos .
Segundo Santos et al a criança hospitalizada vivencia inúmeros sofrimentos: separação, dor, desconforto físico decorrente da intensa manipulação e doença, que influenciam nas esferas afetiva, psicológica e emocional, sendo importante que o enfermeiro reconheça tais sofrimentos. Para tanto, é necessário ouvi-las para apreender a dimensão da doença em sua vida e o modo como é vivida, sendo estes aspectos singulares para cada criança.
Atuação do enfermeiro na utilização do brinquedo terapêutico
O brinquedo terapêutico surge como um instrumento de intervenção de enfermagem, auxiliando na assistência à criança hospitalizada, sendo que o mesmo proporciona um relacionamento estreito e afetivo entre a criança e o profissional. De acordo com Oliveira et al. (2015, p. 22), na assistência de enfermagem, o uso do brinquedo já foi referido por Florence Nightingale, que reconhecia a necessidade de cuidados diferenciados à criança e ressaltava a importância da recreação para seu desenvolvimento e restabelecimento da saúde.
As crianças geralmente têm fantasias e imagens negativas a respeito do ambiente hospitalar e da realização de procedimentos. Se já estiveram internadas em outras ocasiões, terão maiores condições de se adaptar e elaborar os acontecimentos, a equipe de enfermagem deve estar apta para ajudar a minimizar este medo. A informação é uma arma valiosa, pois na medida em que são informadas do que vai acontecer, ocorre à compreensão por parte do paciente, as crianças aprendem a lidar melhor com esse sentimento de medo, com isso colaboram da melhor forma na realização dos procedimentos necessários .
Segundo Ribeiro , acrescenta que a doença e hospitalização, geralmente acompanhadas de procedimentos intrusivos e dolorosos, constituem experiências fortemente estressantes para a criança. Para assisti-la adequadamente é necessário que a enfermeira compreenda o que estas situações significam para a criança, reconheça o que a criança pode estar comunicando através do seu comportamento, o que em geral representa um pedido de ajuda, e utilize técnicas adequadas de comunicação e relacionamento.
Para Tavares , o brincar possibilita ao enfermeiro relacionar-se com a criança e ajuda-lo a sentir-se em segurança, com base numa relação de confiança e mais próximo. Sem dúvida para analisar uma criança não basta um frio conhecimento técnico e da teoria. É necessário ter algo do prazer que sente a criança ou seja brincar, manter algo de ingenuidade, da fantasia e da capacidade de assombro, que são inerentes a infância.O brinquedo é visto como instrumento auxiliador das fantasias que fazem parte do mundo imaginário das crianças, pois pode ser utilizado no preparo para procedimentos, principalmente invasivos, que vão de uma simples punção venosa a procedimentos mais complexos, como os cirúrgicos.
Ribeiro, Sábates e Ribeiro (2001), afirmam que uso do BT na assistência de enfermagem à criança é importante, pois pode facilitar uma resposta positiva da criança durante um procedimento doloroso, após demonstração de comportamentos ou respostas, na brincadeira, sendo que o mesmo é amplamente reconhecido como uma forma de comunicação universal das crianças.
A ambientação hospitalar muitas vezes se torna ameaçadora para criança, por ocasionar fatores altamente estressantes para a criança como dor e sofrimento. A equipe de enfermagem tem a necessidade de compreender o comportamento geral desta criança, saber quando a mesma solicita um pedido de ajuda ou quando se refere ao estado em que se encontra (no caso quando sente dor), a comunicação adequada trás o relacionamento e com isso minimiza a angustia daquele momento .
O BT auxilia a assistência do enfermeiro prestada a criança, sendo que cada criança deve ter uma assistência individualizada pois nem sempre os problemas identificados são os mesmos. Em virtude disso Oliveira e Almeida (2016, p. 365), afirmam que o trabalho da enfermagem, sempre é muito corrido e atarefado, a terapêutica usando o brinquedo, necessita de uma explicação e orientação da criança para a realização de um procedimento, para o enfermeiro essa prática requer tempo e atenção, porém para uma criança que está doente, e sente-se incomodada com a dor, é uma forma de aliviar e sentir acolhida dentro do hospital. Facilitando assim os cuidados da equipe, e relação da criança e do profissional, pelo fato que a mesma se sente mais confiante.