dimensões humanas e com as mais variadas possibilidades na vida das crianças. O brincar se torna essencial, quase uma necessidade básica para que a vida se apoie nesta atividade mantendo o equilíbrio da sua percepção do mundo. Nas palavras de Chateau (1987, p.14): “Uma criança que não sabe brincar (…) será um adulto que não saberá pensar”.
Faz-se necessário entender também, que a brincadeira infantil possui caráter fundamental no desenvolvimento psicológico e social de forma equilibrada na criança. Por conta da inter-relação com o a ação de brincar e seus componentes, a criança características essenciais a sua futura vida adulta. Essa estruturação não sendo bem feita pode trazer déficits na relação com o mundo. Wajskop (1995, p.68) sobre isso afirma que ao brincar a criança está inserida na “fase mais importante da infância”. Nesta fase ela necessita desenvolver suas internalizações e a brincadeira consegue fazer com isso aconteça de maneira espontânea, ou seja, ao brincar a criança desenvolve biopsicossocialmente: Desenvolve habilidades psicomotoras, coloca a imaginação em ação, usa da criatividade, resolve problemas, pratica e exerce funções sociais diversas, produz variados estímulos sensoriais e participa deles interagindo com outras pessoas.
O brinquedo e a criança: interação mais do que necessária
É interessante ter em mente que a ideia de criança está alicerçada em uma noção construída historicamente e que vem mudando com o passar do tempo. Algumas sociedades entendem a criança de uma forma interdependente de sua classe social, etnia, etc.
Em nosso país, as crianças enfrentam situações precárias e adversas em ambientes que conduzem a contextos de grande dificuldade e de abusos como a exploração do trabalho e de sua sexualidade de forma precoce. Só para ter uma ideia no ano de 2014, o Disque-Denúncia Nacional da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR) teve mais de 91 mil denúncias que se relacionavam com a violação de direitos de crianças e adolescentes.
Ainda sobre a definição de criança é muito bem-vinda o que prega a Proposta Curricular de Santa Catarina (1998, p.21) definindo-a como:
(…) um sujeito social e histórico que faz parte de uma organização familiar que está inserida em uma sociedade, com uma determinada cultura, em um determinado momento histórico. É profundamente marcada pelo social em que se desenvolve, mas também o marca.
Por essa ótica, como mostra Rosamilha (1979, p.77) ter compreensão, conhecimento e entendimento sobre as particularidades da criança ao se inserir no mundo é o grande desafio da Educação infantil, afinal “a criança é um ser feito para brincar” e o jogo nada mais que um artifício para que ela se desenvolva física e mentalmente.
Quando brinca e joga a criança desenvolve a capacidade de resolver problemas que se apresentam no decorrer de suas ações. Nas palavras de Moura (1996, p.53): “O jogo tem fortes componentes da resolução de problemas”.
A representatividade do brincar como mostra Macedo, Petty e Passos (2005, p.87) se reveste de maior importância quando conduz a maiores interfaces psicológicas, sociais e físicas, facilitando o desenvolvimento relacional entre as crianças por meio da resolução de impasses e problemas pontuais. Os mesmos autores mostram que brincar é:
Brincar é envolvente, interessante e informativo. Envolvente porque coloca a criança em um contexto de interação em que suas atividades físicas e fantasiosas, bem como os objetos que servem de projeção ou suporte delas, fazem parte de um mesmo continuo topológico. Interessante porque canaliza, orienta, organiza as energias da criança, dando-lhes forma de atividade ou ocupação. Informativo porque, nesse contexto, ela pode aprender sobre as características dos objetos, os conteúdos pensados ou imaginados.
Contrariamente ao que é abordado neste trabalho, as crianças tem brincado cada vez menos. Varias razões levam a esse distanciamento do jogo, do brinquedo e da brincadeira. Como motivo desse afastamento tem-se: o processo precoce de amadurecimento, a redução do espaço físico e a diminuição de tempo para que a criança brinque. Jogos eletrônicos, celulares cada vez com mais possibilidades, a TV, a diversão online no geral tem colocado a brincadeira de lado. As interações sociais se perdem ou então são realizadas remotamente, sem o contato, a socialização e afins. Dessa forma a liberdade, de agir e interagir, em contextos lúdicos fica sumariamente aquém do que deveria afinal de contas a brincadeira é excelente forma de movimentação, prática linguística, de trabalho mental e psicológico.
Em meio a este diagnóstico, há ainda outro também com graves consequências. Os pais e responsáveis estão deixando de lado a importância da brincadeira, do jogo e do brinquedo completamente de lado. O tablet, o computador, o smartphone e outras parafernálias eletrônicas tem tomado o lugar da brincadeira que deveria ser feita não só na escola, mas também em casa com os pais. Esse é um erro de proporções grandiosas para o desenvolvimento cognitivo, motor, psicológico e social da criança.
Partindo deste ponto de vista existe um senso comum de que o brinquedo é só um agrado para a criança e que a brincadeira é perda de tempo. Não, não é. Brinquedo é uma forma de investir em uma prática saudável tendo o desenvolvimento da criança em foco. É um caminho possível para se chegar mais a fundo, no âmago dos processos que irão transformar a criança. Renegar este caminho pode ser não só prejudicial para criança como perigoso para a sociedade. Afinal ela será formada por indivíduos que não desenvolveram contextualizações sociais diversificadas.
Ludicidade e o desenvolvimento da criança
Para Vygotsky (1984) brincar constitui um papel de suma importância na formação do pensamento da criança. Ao brincar várias transformações acontecem valências físicas e motoras bem como potencialidades se aprimoram. Esses aspectos começam a se relacionar com fatores externos como tempo, espaço, símbolos, regras. Tais relações, se bem desenvolvidas têm efeito de expandir a capacidade mental o que contribui para a formação da pessoa no meio social.
Nesse sentido a criança, através do brincar age reproduzindo o externo e internalizando-o, contribuindo assim, para a formação de seu pensamento sobre o mundo. Por conta disso Vygotsy afirma também, que a ludicidade se reveste de muita importância por sistematizar as experiências cotidianas das crianças e organizar os seus processos mentais que estão se ordenando internamente. Em suas palavras: