Os profissionais são qualificados para atender os alunos, no entanto a demanda de educandos matriculados é baixa, boa parte dessas crianças, não frequentam o ensino regular, os pais os mantem em casa, por receio de que seus filhos sofram bullying. Sendo assim, os alunos surdos, passam a frequentar a escola apenas na fase adulta. A partir desse contexto a escola deve inclinar-se não tão somente para as dificuldades do aluno em situação de deficiência, mas para os traços peculiares que marcam as diferenças entre os indivíduos no sentido em que: “As diferenças e as individualidades devem ser reconhecidas como aspectos positivos em todos os indivíduos”.Stainback (2006).
Em sua obra “As imagens do outro sobre a cultura surda”, a também pesquisadora surda, Strobel, cita:
Cultura surda é o jeito de o sujeito surdo entender o mundo e de modificá-lo a fim de torná-lo acessível e habitável, ajustando-o com as suas percepções visuais, que contribuem para a definição das identidades surdas e das “almas” das comunidades surdas. Isto significa que abrange a língua, as ideias, as crenças, os costumes e os hábitos do povo surdo STROBEL (2008).
A pesquisadora surda, Perlin afirma, que as atitudes fazem com que os surdos se identifiquem ao mundo visual próprio deles:
É o caso de ser surdo homem, de ser surdo mulher, deixando evidências de identidade, o predomínio da ordem, como por exemplo, o jeito de usar sinais, o jeito de ensinar e de transmitir cultura, a nostalgia por algo que é dos surdos, o carinho para com os achados surdos do passado, o jeito de discutir a política, a pedagogia etc. PERLIN (2004).
Ao longo da história dos surdos, Ströbel (2007) afirma que muitos estereótipos foram usados para se referir aos surdos, tais como: o mudo, deficiente, anormal, doente e outros mais. A surdez muitas vezes foi associada a aspectos cognitivos, por estes motivos, através da história o surdo sofreu preconceitos e não pôde exercer sua cidadania. Por não ser considerado inteligente, o sujeito surdo foi estigmatizado por ser considerado louco e incapaz. O termo surdo-mudo ainda é usado até hoje por pessoas que não param para refletir que o fato de não ouvir não torna alguém mudo ( OLIVEIRA, 2011).
Os surdos sempre foram estigmatizados e considerados de menor valor social. Pelo fato de não falarem eram considerados “humanamente inferiores” . A língua de sinais não era reconhecida, sendo considerada uma mímica gestual. A legitimação da língua de sinais é para o surdo a reafirmação de pertencer a um novo grupo específico de surdos, não mais ao grupo de “anormais” (SANTANA, 2007).
Os surdos se organizam em grupos para lutarem contra os estigmas e defenderem sua língua e sua cultura; eles buscam provar que são capazes de compreenderem e interagirem através da língua de sinais. Segundo Perlin:
As diferentes identidades Surdas são bastante complexas, diversificadas. Isto pode ser constatado nesta divisão por identidades onde se tem ocasião para identificar outras muitas identidades Surdas, ex: Surdos filhos de pais Surdos; Surdos que não tem nenhum contato com Surdo, Surdos que nasceram na cidade, ou que tiveram contato com Língua de Sinais desde a infância etc. PERLIN, (2002)
Tal afirmativa, nos permite dizer que o ensino da Libras, para o surdo, para além de uma obrigação legal, é condição para assegurar ao surdo, o direito de escolha, se acolhe ou não tal língua como sua fonte primeira de acesso e produção da cultura e do conhecimento. Silva , Lacerda &Sousa asseveram: É necessário o estabelecimento real de um projeto de educação bilíngue, que contemple o desenvolvimento pleno de linguagem dos alunos surdos, contato efetivo com a comunidade surda para possibilitar fluência em Língua de Sinais, base fundamental para aquisição de conceitos e conhecimentos; contato com aspectos culturais da comunidade surda e providências para que o acesso a segunda língua, língua da comunidade ouvinte em sua modalidade escrita, se dê com base nos conhecimentos adquiridos por meio da língua de sinais. SILVA ,LACERDA &SOUSA, (2012)
Articular uma pedagogia bilíngue tendo como foco o uso de artefatos lúdicos se converte em desafio e em caminho promissor, empenhado na edificação de alternativas didáticas inclusivas. Ou seja, a ludicidade, articulando o fazer das ações de ensino aprendizagem, no que tange a mobilização e interação entre os sujeitos, de modo que todos possam participar em colaboração dos atos pedagógicos. Segundo Silva:
Atualmente observa-se a necessidade da ludicidade está sempre presente no cotidiano escolar e isso vem contribuindo com as concepções psicológicas e pedagógicas do desenvolvimento infantil. Dessa forma as atividades lúdicas ajudam a vivenciar fatos e favorecer aspectos da cognição. Brincadeiras e jogos podem e devem ser utilizados como uma ferramenta importante para o auxílio do ensino aprendizagem bem como para que se estruturem os conceitos de interação e cooperação. SILVA, (2013)
Para Scholze et all: “Brincar, contudo, não é apenas ‘coisa de criança’. A ludicidade faz parte de toda a vida do homem e não é porque os adultos não brincam que ela deixa de existir. Brancher (2007) entende o lúdico como atividade inerente ao ser humano […] “(SCHOLZE et all, 2007, p.70). Aindapara Scholze, Brancher&Nascimento:
As atividades lúdicas, portanto, nos permitem experimentar, sentir, criar e recriar mundos e situações. Através dela podemos nos libertar da nossa realidade mecânica e ir muito além deste mundo, trocar experiências, viver momentos de alegria e liberdade, enfim, aprender com as situações. (SCHOLZE, BRANCHER & NASCIMENTO, 2007, p.70)
Ou seja, considerando os estudos de Perlin(2002) e de outros pesquisadores surdos, a questão da identidade surda está diretamente ligada a produção cultural surda e sobretudo a assunção da Língua Brasileira de Sinais como língua materna de comunicação e interação, o que, tem fortes implicações políticas, haja vista que o povo surdo proclama a Libras como primeira língua, ou seja, como veículo de acesso, construção e interação com meio social.
Material e Métodos
O método utilizado na execução deste trabalho de pesquisa refere – se a uma revisão de bibliografia de artigos cientifos, com base teórica disponíveis em artigos, livros, sites etc.
Resultados e Discussão
Nesta pesquisa foi possível verificar que embora a inclusão escolar no ensino regular, seja respaldada e amparada por lei, como direitos dos educandos surdos, pois faltam recursos e profissionais qualificados para atender esses alunos, que muitas vezes são reepreendidos pelos familiares e impedidos de frequentar a escola, por medo de bullying e maus tratos por parte dos colegas.
Mesmo com todos os problemas apontados, não há como negar que, se compararmos a escola-foco dessa pesquisa com outras instituições “ditas inclusivas”, o fato de haver uma sala destinada a um trabalho com os surdos, além de uma pedagoga que sabe Libras, é um avanço. Outro elemento positivo é o fato de haver vários surdos, que se comunicam em Libras, em uma mesma instituição e, no caso da turma observada, em uma mesma sala de aula. O fato de quatro surdos estudarem em uma mesma classe permite que trabalhem de maneira cooperativa, tornando possível a comunicação entre eles, o que faz com que não fiquem isolados. Além disso, a língua de sinais torna-se visível com a presença desse grupo na instituição. Ressalto, no entanto, que a sala de recurso poderia ser mais bem aproveitada. Nesse espaço, a Libras poderia ser ensinada como língua materna e o português como L2. Professores surdos e especialistas poderiam desenvolver e trabalhar com um currículo adequado aos surdos, permitindo que eles tivessem condições de aprendizagem adequadas, plenas e eficazes. Ademilde Félix (2009)