Resumo
No ambiente escolar a atividade lúdica é uma ferramenta que proporciona situações de aprendizagem prazerosa, motivadora e planejada, com abrangência para o aprendizado de diversas habilidades. Educadores preocupados com conteúdos a serem dados, pouco tempo e arraigados ao tradicionalismo tendem a deixar as atividades lúdicas de lado e assim esquecendo que a criança precisa ser estimulada e se sentir à vontade para se integrar totalmente ao processo de aprendizagem.
O jogo como auxiliar na alfabetização, deve ser agente de mudança de percepção de mundo não só do aluno, mas também do corpo docente, pais e comunidade. Porém muitas vezes há uma barreira que não se limita à escola, vai muito além de seus limites territoriais, pois os jogos são vistos por muitos como apenas atividades recreativas que visam apenas diversão e não são empregadas nenhum tipo de intencionalidade pedagógica nos tais. Sem o abandono desse preconceito cultural sobre essas atividades não obteremos o objetivo desejados ao empregá-los no nosso cotidiano pedagógico.
A atividade lúdica tem sido vista como unicamente e exclusiva ferramenta destinada a áreas do ensino como educação física, ao professor compete propiciar ao aluno o melhor ambiente possível para a construção de seu conhecimento e assim a sua formação completa como ser.
1. Introdução
A aplicação da ludicidade está presente no cotidiano do ser humano desde a Grécia antiga onde possuía uma finalidade voltada para a diversão sem que se adotasse um caráter de seriedade. Subsequentemente o lúdico passou a ser considerado uma ferramenta em potencial no processo de aprendizado, Forbel, Vygotsky e Piaget voltaram seus esforços para apresentar fundamentações que comprovaram a importância do brinquedo nos processos de aprendizagem e consequentemente no desenvolvimento cognitivo e social do homem.
A utilização de recursos lúdicos como metodologia de ensino tem sido objeto de estudos e tem sido cada vez mais motivo de discussão em salas de aulas, tratando-se que a brincadeira está diretamente ligado ao universo infantil, mas mesmo com a comprovação da eficiência do uso de jogos como facilitador no processo de aprendizagem a resistência continua sendo uma constante, onde para muitos docentes têm a visão retrógrada em que brincar e aprender são conceitos antônimos.
Educadores voltados apenas à uma educação tradicional tende a não notar necessidades básicas das crianças, tal como brincar e assim negam a importância de jogos em sala de aula como ferramenta importante para a alfabetização.
Fator a se atente é que os jogos fazem parte da cultura e identidade de um povo, que propicia um desenvolvimento significativo e possibilita que a criança descubra novas habilidades por meio do lúdico. Ao se entrar na educação infantil deve-se notar a importância da atividade lúdica para o desenvolvimento da criança como aluno e como ser humano.
Jogos auxiliam no desenvolvimento da criança em diversos âmbitos como por exemplo, socialização, construção do conhecimento e reduz o nível de agressividade.
Brincando a criança utiliza de mecanismos cognitivos como, conceituar, associar, examinar, comparar, categorizar, ordenar, criar, construir e imaginar, assim trazendo o ambiente da criança à tona possibilitando a sistematização de conhecimentos do seu dia-a-dia.
A atividade lúdica é de grande valia na prática pedagógica uma vez que desperta o interesse do aluno assim tendo seu foco para a brincadeira.
O jogo como recurso didático é um recurso de grande valia na educação infantil, visto que se trata de uma ferramenta com inúmeras aplicações, para promover um ambiente potencializador do aprendizado, atuando no ensino de letras, sílabas, números, operações, fonemas entre tantas coisas.
2. Atividade lúdica: teoria e legislação
Ao longo dos anos vários teóricos têm apresentado resultados que se mostraram eficientes no que tange a relação entre a atividade lúdica e o letramento e a importância de jogos e brincadeiras na atividade escolar.
Sendo os jogos fatores presentes no meio natural do desenvolvimento social e motor da criança, nota-se que essa ferramenta nos propicia um ambiente favorável em sala de aula para o aprendizado.
À medida que a criança se desenvolve, Piaget (1967) afirma que as atividades lúdicas se tornam cada vez mais consideráveis na prática docente. Nota-se que ao participar de tais momentos tem-se uma interação com o cotidiano do aluno e assim tornando-se mais notório o elo entre as experiências cotidianas do aluno e a abstração de tais conhecimentos.
Outro fator relevante é a possibilidade de perceber a real percepção de mundo do agente principal de nossa prática, o aluno, pois nesse momento ele se desprende da formalidade.
A transposição da linguagem oral precisa ser transformada em escritas e os jogos podem ser de fundamental importância para esse processo, pois podem ter sua inserção em todas as disciplinas. Tornar a escola em um ambiente propício ao aprendizado também pode ser o mesmo que torná-la motivadora e contagiante.
2.1. Amparo Legal do Direito Adquirido
O jogo efetivo no aprendizado da criança, pois aproxima a realidade da vivida à habilidade que se deseja ser estudada, assim o docente pode ter uma visão ampla do meio em que o discente está inserido e notar avanços e falhar no processo de ensino e aprendizado no cotidiano escolar. Outros fatores importantes a serem citados em que a atividade lúdica auxilia o desenvolvimento do educando são: linguagem, cognição, afetividade, habilidade motor e moral.
Mundialmente foram estabelecidas diretrizes onde o direito à educação de qualidade é garantido a toda criança, sendo a educação infantil alvo de diversas delas como:
I. Princípio 7 – toda criança tem direito de receber educação primária gratuita, e também de qualidade, para que possa ter oportunidades iguais para desenvolver suas habilidades. A criança também deve desfrutar plenamente de jogos e brincadeiras os quais deverão estar dirigidos para educação; a sociedade e as autoridades públicas se esforçarão para promover o exercício deste direito.
II. Constituição Federal do Brasil: artigo 227 elenca os direitos fundamentais da criança como o direito à dignidade, à educação, à saúde, ao lazer, à alimentação, à profissionalização, à cultura, ao respeito, à vida, liberdade e à convivência familiar e comunitária.
III. (ECA): no artigo 16 estabelece que o direito à liberdade das crianças e adolescentes compreende os aspectos: brincar, praticar esportes e divertir-se. O artigo 59 refere-se ao esforço que os Municípios, Estados e União, em conjunto, deverão fazer, visando proporcionar programações culturais, esportivas e de lazer para a infância e a Juventude.
Sendo assim nota-se que a atividade lúdica não pode ser levada apenas como matéria de artigos científicos, mas também como direito estabelecido por lei e se mostram eficazes no processo de ensino-aprendizagem.
2.2. Teoria e Cognição: A Importância do Brincar
Diversos teóricos têm voltados seus esforços para fundamentar a importância da prática de atividades lúdicas no processo de ensino aprendizagem uma vez que colaboram com o desenvolvimento da criança como um ser sociocultural. Dentre esses podemos destacar: Piaget, Vygotsky, Frobel, Dewey, Montessory, Pestalozzi, Comenius e Decroly. Os jogos têm a capacidade de transformar conhecimento muitas das vezes abstrato em concreto, sendo assim de mais fácil compreensão ao aluno.
Sendo o meio um fator importante para a cognição percebe-se a importância de propiciar as melhores condições com estímulos e ferramentas adequadas para que o aluno seja capaz de formar seu próprio conhecimento. Outro aspecto relevante é o potencial das atividades lúdicas podem preparar o aluno para melhor assimilar um conhecimento vindouro suprindo eventuais deficiências de aprendizado.
Piaget (1978) defendia que o processo de desenvolvimento se dava por estágios e que cada um estava ligado a uma estrutura mental e assim atividades lúdicas deveriam seguir essas sequências, pois ela se dava de maneira igual em todos os indivíduos. Foram notados três grandes estruturas no estudo de Piaget que ocorriam gradativamente.
I. Os jogos onde envolviam os exercícios que se baseavam na pura repetição de movimento tais como: corridas, pular corda, caminhadas, por terem o aspecto funcional e prazeroso.
II. Os jogos que visavam às relações e diferenças entre símbolos e o significado de sua representação, esses se nomeavam jogos simbióticos.
III. Com a baixa na eficácia dos jogos simbióticos a criança passa a se interessar pelas regras que envolvem tais atividades, então abre-se a passagem para os jogos que vêem a criança como ser social.
O imaginário é elemento primordial nas brincadeiras e jogos que promovem situações únicas para o aprendizado infantil, onde há uma sustentação necessária para alterações das carências e da consciência. Buscando a compreensão das atividades propostas a criança se põe em situações onde surgem desafios e curiosidades, sendo assim ambiente ideal para o docente auxiliar a construção do conhecimento levando os alunos a experimentar a alternativa de mudar o seu ambiente cotidiano.
Vygotsky (2007) também apresenta a importância de um sistema simbólico, onde as representações gráficas influenciam diretamente no processo de aprendizagem, onde vemos outro aspecto marcante de sua teoria que são as representações signos.
Nota-se através desses estudos que o brincar está diretamente ligado à aprendizagem onde não se pode ver a criança como um mero replicador de conhecimento, por meio dos jogos leva-se o aluno a um patamar diferente como construtor do seu próprio conhecimento dando um livre pensamento discente onde ele pode ser autônomo e criativo.
2.3. A Lei Que Permeia a Aprendizagem
Constata-se em pesquisas a abrangência que legislação brasileira aborda o ensino-aprendizado e o desenvolvimento pedagógico. A Constituição Federal de (Brasil, 1998) comprova o direito estabelecido na 7ª Declaração dos Direitos Humanos está retificada que: “a criança deve ter plena oportunidade para brincar e para se dedicar a atividades recreativas”.
Toda criança tem o direito constitucional de: à cultura, ao respeito, à saúde, à alimentação, à dignidade, à vida, à educação, ao lazer, à profissionalização, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.
Também de suma importa está instituído o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) que vai de encontro com a constituição brasileira reafirmando os direitos da criança e do adolescente, onde o artigo 16 apresenta direitos tais como: brincar divertisse e a prática de esportes. O artigo 59 do mesmo estatuto frisa o esforço que União, Estados e Municípios devem desempenhar para que haja tais direitos garantidos.
A importância de jogos e brincadeiras no desenvolvimento da criança é igualmente enfatizado no Referencial Curricular Nacional para o Ensino Infantil (RCNEI), no qual destaca que o desenvolvimento da autonomia e formação de uma identidade como indivíduo social, desde muito cedo, a comunicação se dá por inúmeras formas sendo que oralmente e gestualmente, onde atividades lúdicas oportunizam ambiente ideal no qual a imaginação tem liberdade para fluir uma vez que a fantasia é fator que propicia a assimilação da relações interpessoais.
Tendo o homem como um ser que se desenvolve por diversos âmbitos precisa-se de meios que o levem a um desenvolvimento integral, baseado na legislação a atividade lúdica em diversos cenários permite a formação de um ser autônomo e pensante, respeitando o progresso de cada um ao seu determinado tempo.
Desde 1996 a educação infantil passou a integrar a educação básica brasileira onde a Lei nº 9394/96 Lei de diretrizes e bases da educação – LDB passa a vigorar dez anos mais tarde essa lei sofreu alterações que vieram sistematizar o ensino infantil com faixa-etárias que foram divididas entre as que frequentavam creches e pré-escolas. Sendo a escola ambiente em que a criança passa boa parte do seu dia deve-se garantir seu direito de brincar e por que não durantes esse período?
Negar à criança a chance de se desenvolver prazerosamente e independentemente é o mesmo que, impedir o seu total desenvolvimento, sendo papel da escola e educadores oportunizar um ambiente do qual o potencial do discente seja explora de maneira prazerosa e efetiva.
Didaticamente os jogos são ferramentas de suma importância, longe de serem meros passatempos, os jogos nos auxiliam a estimular avaliar competências, potencialidades e habilidades específicas, favorecendo a concepção de um processo de ensino aprendizagem mais eficaz e aprazível.
3. O brincar e a cognição
Além de proporcionar um momento de desconcentração em sala de os jogos e brincadeiras são fontes de experiência e interação social. “Na brincadeira, a criança explora as formas de interação humana, aprende a lidar com a espera, a antecipar ações, a tomar decisões, a participar de uma ação coletiva”. Esse tipo de experiência e interação são de suma importância para a organização do pensamento, a ampliação da capacidade de abstração e desenvolvimento cognitivo.
Dentre todos os instrumentos pedagógicos que podem ser utilizados na educação infantil o jogo se destaca como grande aliado no processo de alfabetização e letramento. O tipo de linguagem desse recurso torna a aprendizagem mais significativa e duradora. Tomemos como exemplo a regra do jogo de amarelinha, a criança na idade de alfabetização aprende facilmente essas regras e as levam para a vida toda. Da mesma forma acontece com a aprendizagem de símbolos e linguagens próprias da alfabetização por meio de jogos.
3.1. Ensino Aprendizagem Através do Jogo
O desenvolvimento psicomotor, linguagem, percepção, memória equilíbrio afetivo e signos sociais sofrem transformações significativas através do uso de jogos e brincadeiras. Ou seja, eles possuem um grande potencial para o desenvolvimento da capacidade social e intelectual das crianças. Segundo Friedman.
O jogo oferece uma importante contribuição para o desenvolvimento cognitivo, dando acesso a mais informações e tornando mais rico o conteúdo do pensamento infantil, paralelamente o jogo consolida habilidades já dominadas pelas crianças e a prática dos mesmos em novas situações.
Os jogos durante a infância atuam como facilitadores da aprendizagem. Através deles as aulas se tornam mais vivas, dinâmicas e atrativas, o que contribui para uma aprendizagem significativa, que ocorre de forma gradativa e eficaz.
Piaget (1978), diz que “a atividade lúdica é o berço obrigatório das atividades intelectuais da criança, sendo, por isso, indispensável à prática educativa”.
O ambiente escolar também é visto como local onde a educação infantil favorece o desenvolvimento da criança em diversos sentidos, de modo que a brincadeira contempla todas as fases desse desenvolvimento é notória a sua necessidade no dia-a-dia escolar.
A inserção do lúdico no cotidiano escolar possibilita o desenvolvimento infantil tratando de questões do imaginário, associações, compreensão de símbolos e seus significados e por consequência a leva ao próximo nível de seu desenvolvimento. Basta observar uma criança participando de atividades escolares que brincar faz parte de seu cotidiano e está implícito em suas ações.
Utilizar o brinquedo como ferramenta pedagógica tem suma importante na aproximação do concreto e abstrato, fazendo assim uma ponte que o liga e leva o aluno a atravessá-la de maneira prazerosa e sem perder nenhuma parte do processo de aprendizagem, pois ele está totalmente inserido no objeto de estudo e sem sair do seu cotidiano, causando assim um menor desequilíbrio na construção de um novo conhecimento.
No nível pré escolar o aprendizado se dá de forma intuitiva no decorrer das interações da criança e o meio em que ela está inserida e a atividade lúdica pode interferir de maneira positiva no momento da aprendizagem.
Ao permitir a ação intencional (afetividade), a construção de representações mentais (cognição), à manipulação de objetos e o desempenho de ações sensoriomotoras (físico) e as trocas e interações, o jogo contempla várias formas de representação da criança ou suas múltiplas inteligências, contribuindo para a aprendizagem e o desenvolvimento infantil.
Com a implementação de situações lúdicas pelo docente como estímulo e ferramenta contribuinte a favorecer a intencionalidade pedagógica voltada ao aprendizado de determinada habilidade, mostra-se o que Kishimoto (2009) denomina dimensão educativa, na qual o educador sustenta a situação formada potencializando a cognição e o desenvolvimento da criança enquanto brinca.
O brinquedo ao ser tratado como metodologia de ensino passa a ter duas principais funções, a primeira como agente que proporciona a diversão e descontração no ambiente escolar e a segunda como ferramenta pedagógica, sendo sua intenção apresentar à criança uma forma de ao mesmo tempo se divertir e agregar ao seu conhecimento novas habilidades.
Também podemos destacar que brincadeiras que são intituladas de natureza livre que são brincadeiras onde a criança cria e organiza regras o aprendizado não deixa de acontecer, ele apenas se dá sem o intermédio de um adulto e a criatividade da criança é a autora do novo conhecimento.
Mesmo a atividade lúdica sendo pensada com a intenção de potencializar a aprendizagem de um determinado objeto, nunca pode-se estimar o alcance de tal atividade, pois o ser que é o objeto de nossa prática docente, o aluno, é um ser dotado de conhecimento prévios e de uma criatividade autônoma.
O uso de jogos como motivação resulta em uma potencialização do aprendizado e estímulo ao desenvolvimento e interesse da criança.
Conclusão
A educação infantil tem como cuidado especial início da vida escolar da criança, visando que a criança necessita estar preparada para inúmeras situações e a escola é o ambiente onde se deve proporcionar boa parte desse preparo.
O RCENI torna mais claro a importância da presença das atividades lúdicas na rotina escolar da criança tendo uma intencionalidade pedagógica e não sendo considerada uma forma de preencher vácuos de horários, linhas em planejamentos e diários, pois colabora de maneira direta e impactante no processo de ensino-aprendizagem o tornando prazeroso e atrativo para o aluno.
Sempre é válido ressaltar que no que se diz respeito a aplicação dessas atividades o professor deve se preparar e buscar atividades que melhor se adequem ao objetivo desejado, fatores importantes a se destacar são: reconhecimento do sujeito a participar da atividade, atividade a ser proposta, interferências que podem prejudicar o andamento da atividades, e sempre estar preparado para imprevistos, pois cada criança traz uma concepção de mundo e costumes diferentes e podem reagir de diversas maneiras mediante ao mesmo estimo e assim alcançando o real objetivo que é formar indivíduos críticos e capazes de interagir com situações diversas do cotidiano.
https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/educacao/a-ludicidadeconstruindo-a-aprendizagem-de-criancas-na-educacao-infantil/50878
https://monografias.brasilescola.uol.com.br/educacao/a-importancia-ludico-na-educacao-infantil.htm