Para reconhecer em uma criança a dificuldade de aprendizagem, é preciso primeiramente entender o significado de aprendizagem e quais os fatores que nela interferem. Podemos dizer, numa linguagem simples e compreensível, que a aprendizagem é um processo que se realiza no interior do indivíduo e se manifesta em uma mudança de comportamento.
Piaget defende que “Aprendemos a partir da ação dos sujeitos sobre os objetos, em que o sujeito é sempre aquele que vai em busca do conhecimento; e o objeto é sempre aquilo que se deseja conhecer e a ação do sujeito sobre o objeto é sempre uma interação.”
Já a aprendizagem ocorre por meio de mediações. Considera a aprendizagem como o despertar de processos de desenvolvimento no interior do sujeito que não ocorreriam sem o seu contato com o ambiente histórico-cultural.
Uma grande preocupação dos profissionais da educação, sempre foi saber como uma criança elabora seu pensamento, suas idéias, seu raciocínio lógico e principalmente como ela adquire a linguagem falada, lida e a escrita, e, a partir disso, compreender a razão pela qual alguns alunos, apresentam dificuldades de aprendizagem e conseqüentemente insucesso escolar. Segundo Estanislau e Bressan (org.) dificuldades de aprendizagem são:
O conjunto de causas mais comuns de rendimento acadêmico abaixo do esperado. Podem ser físicas/cognitivas (problemas de visão, rebaixamento intelectual, etc.), psicológicas (falta de interesse, baixa autoestima, transtornos mentais como depressão e transtorno de déficit de atenção/hiperatividade [TDAH], etc.) ou ambientais.
A partir daí, o presente trabalho busca relatar a observação do processo de aprendizagem de uma criança que apresenta defasagem no processo de alfabetização.
Relato de caso
Atualmente trabalho em uma escola da rede estadual de Belo Horizonte, localizada no aglomerado Barragem Santa Lúcia, que atende crianças entre 6 e 11 anos de idade contemplando do 1º ao 5º ano do ensino fundamental. Atuo como professora regente em uma turma de 24 alunos do 3º ano, última etapa do 1º ciclo de alfabetização.
Desses 24 alunos, há uma aluna em especial que me chama muito a atenção devido a sua dificuldade de aprendizagem em sala de aula. A aluna chegou à escola no início deste ano. Veio de outra escola Estadual de Belo Horizonte e se encontrava no nível pré-silábico de alfabetização (Ver anexo1). Em conversa com sua mãe, nos foi relatado que Larissa sempre mostrou uma grande dificuldade com relação às atividades escolares. Para seus pais, Larissa nunca iria aprender a ler.
Em sala, a aluna senta na primeira carteira, porém se desconcentra com facilidade, se atentando a detalhes que não fazem parte do contexto da aula ou mexendo em alguns objetos pessoais. Sempre se faz necessário chamar a sua atenção para o assunto da aula. Apresenta também dificuldades no raciocínio lógico, na realização de operações e na elaboração de situações problema.
Como a aluna está na ultima etapa do ciclo de alfabetização, houve uma preocupação no sentido de tentar alfabetizá-la ainda este ano para que pudesse iniciar o próximo ciclo já lendo. Neste sentido a escola se mobilizou e Larissa foi inserida em todos os programas de intervenção pedagógica dentro da escola. Os resultados foram positivos, pois, neste segundo semestre Larissa já se encontra alfabetizada, lendo palavras simples, mas ainda com dificuldades na leitura de palavras complexas.
A comunidade escolar como um todo existe, por ser este o local em que se aprende, no entanto aprender em sala de aula não é apenas copiar, reproduzir a realidade ou eleger modelos, mas sim aprendizagem escolar deve sempre desafiar seus alunos, conduzi-los e torná-los capazes de elaborar conceitos e opiniões, enfim o aluno deve ser capaz de atribuir e construir significados. Se isso não está acontecendo de uma maneira natural algo precisa ser revisto e até avaliado para identificar as causas ou as dificuldades que estão impedindo que essa aprendizagem consiga seguir seu curso natural.
Neste sentido percebe-se que as dificuldades de aprendizagem não devem ser atribuídas somente a fatores externos, como também a fatores internos como os métodos de ensino, a falta de materiais didáticos apropriados, formação de professores, condições psicológicas do aluno entre outros fatores.
Conclusão
De acordo com as atividades diagnósticas realizadas pela criança até o momento, percebe-se que ela obteve um avanço considerável, já que não lia nem escrevia nada além de seu nome. Porém, ainda apresenta dificuldades em tomar a iniciativa na realização das atividades, pois ao entregar-lhe uma folha com atividade para ser realizada, mesmo sendo capaz de fazer, e com a professora explicando à frente da sala, ela espera e não realiza. Sempre aguarda que alguém lhe dê as orientações de forma individual.
A zona de desenvolvimento proximal é a distância entre o nível de desenvolvimento real e o nível de desenvolvimento potencial. “O nível real exprime o desempenho da criança ao realizar suas tarefas sem ajuda de ninguém, e o nível potencial representa aquelas tarefas que a criança só consegue realizar com ajuda de alguém”.
Desta forma, se faz necessário propor atividades que estimulem a criança a alcançar o nível real sempre buscando atuar de maneira autônoma.
Segundo Piaget, o que nos motiva para a aprendizagem são os problemas cotidianos, os fatores desafiantes, os conflitos intelectuais, ou seja, os desequilíbrios constantes que ocorrem ente o que conhecemos e o que ainda existe a ser conhecido. Dessa forma, estamos em desequilíbrio no processo de aprendizagem quando o conhecimento que temos sobre algo é menor que o conhecimento contido no objeto a ser conhecido.
Sendo assim, conclui-se que para que a aprendizagem aconteça realmente, se faz importante uma metodologia escolar adequada, envolvendo e desafiando seus alunos. E no momento em que surgir algum problema com algum aluno é importante que haja uma mobilização por parte da escola, a fim de que solucionem a possível dificuldade. A escola deve esforçar-se para a aprendizagem ser significativa para o aluno. E este obviamente se tornará um ser mais motivado e interessado em aprender.
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