Desde sua origem o ser humano tem necessidade de explicar aquilo que está a sua volta, como os fenômenos da natureza, seus pensamentos, sentimentos… Nessa busca constante de explicar tais fenômenos internos ou externos, o ser humano cria visões de mundo, uma visão de mundo mitológica, filosófica, religiosa, metafisica.
Na era moderna, o homem criou uma visão de mundo que causou grande euforia, porque ela veio com uma promessa de que a razão humana, por meio do método científico, nos garantiria verdades absolutas. Essa ideia é denominada de cientificismo, ao considerar que a ciência é a única criadora de respostas válidas. Autores como Descartes, Kant e outros, trouxeram a tona discussão em torno do nascimento do sujeito moderno. Descartes fundamentava uma subjetividade universal a partir do seu próprio pensamento, afirmando que a primeira certeza, que jamais poderia ser duvidada que ele pensa.
A filosofia de descartes dizia que não existia uma verdade absoluta que servia para todos os tempos e todos os lugares. Descartes, dizia que o sentido nos engana. Através de um método criado por ele, a dúvida metódica, ele faz um filtro de quais idéias são claras e seguras: se eu duvido é porque estou pensando e se estou pensando eu existo. “penso, logo existo”.
Contemporâneo, Emmanuel Kant, contribuiu com a fundamentação de um sujeito racional. Considerou que o sujeito seria capaz de produzir um conhecimento universal. Diferente de Descartes que considera que o conhecimento seria apenas pela razão, Ele afirmava que a intuição teria um papel fundamental nesse processo. Portanto para Kant a produção do conhecimento passa tanto pela sensibilidade como pela racionalidade. A partir desses movimentos em torno do sujeito e , das feridas narcisicas , atribuídas a Freud, vai se construindo o chamado descerramento do sujeito.
Essas questões foram amplamente discutidas por filósofos e mais tarde por psicanalistas, dentre eles Freud.
Em meados do século XIX, Sigmund Freud, médico neurologista, conhecedor da filosofia, desenvolveu estudos sobre a mente humana, a psique, dando origem a psicanálise. O objeto de estudo da psicanálise é o inconsciente. Esse objeto de estudo será alvo de críticas da psicologia naturalista, que alega que de acordo com a ciência tradicional, não tem como experimentar de maneira empírica o inconsciente. Os estudos de Freud esbarraram em vários momentos na cientificidade. Ele reconhecia que a psicanálise não era efetivamente uma ciência e, em seus discursos dizia que seria muito difícil a psicanálise entrar no mundo científico, pois ela mostrava a existência de desejos inadmissíveis que estariam no inconsciente e que de alguma maneira, o indivíduo tendo consciência desses desejos, veria a psicanálise com certa aversão.
Ao promover o descentramento do psiquismo, a psicanálise implica em uma ferida narcísica. A terceira, segundo Freud, precedia pelas teoria de Copérnico e Darwin.
A primeira ferida narcísica, segundo Freud, ‘e a teoria Heliocêntrica de Copérnico. Ele joga por terra essa teoria ao dizer que é a terra e não o sol o centro do universo.
A segunda ferida narcísica ‘e a Teoria Darwiniana. Segundo Darwin, o homem não e uma criação divina e, sim resultado da evolução da espécie. Teoria do evolucionismo.
Implementação da psicanálise
A terceira ferida narcísica foi construída pela psicanálise. O homem acredita que existe uma consciência e essa consciência era capaz de ajustar, guiar seus desejos, mas Freud percebe que essa está submetida ao inconsciente, um campo maior que o consciência, exemplificando como se fosse um iceberg. O inconsciente seria a parte que está submersa, e conclui dizendo que o homem não e o senhor da sua própria casa
Ao definir o aparelho psíquico, para a compreensão da sua existência, Freud explica algo que vai alem da razao e, toca na subjetividade, a partir do descentramento trazido pela descoberta do inconsciente.
Dessa forma, o discurso freudiano colocava para a filosofia um problema fundamental na virada do sec. XIX para o XX: o descentramento do sujeito.
Para o filósofo Descartes,o pensamento era garantia de existência do Sujeito, penso, logo existo. Para a psicanálise, a tese de que existe um psiquismo inconsciente, onde a subjetividade transcende registros do eu e da consciência, determinaram o descentramento do sujeito.
Para Lacan, a descoberta do inconsciente indicava um paradoxo fundamental, qual seja, o sujeito existia onde não pensava e pensava onde não existia. O inconsciente e o desejo fundariam agora a existência fora do registro do pensamento. A existência do sujeito e a produção da verdade se realizariam para a psicanálise fora do registro do pensamento, inscrevendo -se nos registros do desejo do inconsciente.
Seria essa, uma das versões da tese do descentramento do sujeito promovida pela psicanálise.