A religiosidade sempre foi um aspecto importante e determinante para o homem ao longo da História, contudo têm-se maneiras diversas de interpretações e significância. E, para o homem medieval não seria diferente, este com visão hierofânica, ou seja, a manifestação do sagrado para ele poderia ser feita através de um objeto, elementos da natureza e até mesmo pela encarnação do próprio sagrado como é professada pela Fé cristã.
Uma das características que mais difere o comportamento do homem moderno ao do homem medieval é que este estava totalmente imerso em sua religiosidade, com significância do nascimento até a morte em todos os aspectos da vida, para ele profano e o sagrado não se opunham, mas o referencial de todas as coisas era o próprio sagrado. Numa sociedade que vivia guerras constantes, ausência de leis gerais, dependente da natureza e sujeita a fenômenos incontroláveis e desconhecidos, como pragas e más colheitas, o sagrado se apresentava como esperança e força reguladora em relação ao desconhecido. Com crença na existência de Céu e Inferno, o importante para eles era não morrer em pecado e, assim, após a morte terrena alcançar a vida celestial.
Ao contrário do homem moderno, o homem medieval tinha uma visão mágica de mundo, onde a realidade não se diferenciava da magia. Conforme afirma Hilário (p.193) a magia tinha três tipos de manifestação: o milagre, o maravilhoso, a feitiçaria. Nos dias de hoje, quando se fala em magia, logo se remete a shows de ilusionismo que nada têm ligação com Fé e milagres, pois se trata apenas de truques que servem para entretenimento. Como foi dito, o sagrado não se diferenciava do profano, como se faz na modernidade. Para eles, o sagrado estava em tudo, em todas as manifestações, dentro de uma escala que colocava Deus como o ser onipotente, onisciente e as demais representações como anjos, santos e até mesmo o Diabo abaixo d’Ele e não em oposição.
Por isso, essa visão teocentrista, ou seja, Deus no centro e regulador de tudo, talvez seja o que mais difere o homem medieval do homem moderno, pois este tem uma visão mais etnocêntrica, onde ele mesmo se coloca como centro das coisas. E, mesmo que muitos atualmente sejam dotados de Fé, religião e práticas religiosas, em nada se iguala a do homem medieval, pois este transcendia religiosidade em toda sua vida, em todas as coisas, em todos os lugares.