Esta pesquisa buscou contribuir com reflexões a respeito sobre o estudo da historiografia brasileira e do modo de se fazer história e o seu uso como ferramenta de legitimação do poder estabelecido ao longo do primeiro reinado do Império Brasileiro. Também foi possível apontar a produção historiográfica brasileira dos oitocentos como um dos caminhos para a análise do processo de formação da nação brasileira.
A escolha do letrado baiano, homem polígrafo, com produção importante em diversos campos do saber possibilitou enfatizar a ideia de que as sociedades modernas estavam baseadas nas ações de comércio e sociabilidade.
Para Silva Lisboa, no período colonial, o Brasil foi impedido de usufruir do “império das letras” devido à política daninha do Corte Portuguesa que provocou um atraso da civilização. Com a abertura dos portos às nações amigas e a vinda da família real portuguesa para o Brasil, elevando-o à condição de sede do Reino Unido a modernidade pôde começar a ser experimentada e o país caminhava para a construção de um Império polido e comercial.
A tarefa a ele incumbida pelo Imperador de escrever uma História Geral do Brasil fazia parte do seu compromisso pessoal em demonstrar e defender um modelo civilizacional monárquico-constitucional, representado pela figura do Imperador. Deste modo:“a principal tarefa do texto e do uso da história seria educar o público em suas verdades, “adoçando” os costumes e preparando as novas gerações nos moldes civilizacionais propostos, onde o bom governo seria capaz de guiar os interesses comuns, mesmo quando os homens já não fossem capazes de identificá-los […] Como parte desse bom governo, o historiador deveria contribuir para temperar a civilização com a firmeza dos valores morais, incluindo-se necessariamente a religião católica. Por isso, não se pode separar o Visconde de Cairu historiador, do moralista e panfletista ou do pensador da economia, na medida em que todas essas facetas eram tidas como competências necessárias ao homem de Estado”.
Podemos argumentar que a produção de uma literatura nacional, de caráter histórico, vem revestida de uma dimensão formativa. Formação na qual a oferta pública de uma história-verdade seria condição para adoçar os costumes e educar os súditos. Ao fundir certa representação do Estado, com religião e com a narrativa histórica sustentada em documentação e na historiografia disponível, o sujeito da narrativa da história geral do Brasil faz ressaltar as dimensões moral e política desse que, segundo o narrador, deveria ser visto como um saber imparcial, posto que regido e submetido à economia da verdade.