A narrativa de Amanda aponta, mais uma vez, para uma sensação de frustração. Enquanto enfermeira, sua formação gira em torno do cuidado voltado para a mudança do quadro clínico do paciente, para a recuperação dele e devolução à sociedade para a retomada da vida. Medicação no horário, realização de trocas do curativo, avaliação da sensação de dor, são algumas das obrigações da atuação do profissional de enfermagem.
Nesse sentido, se deparar com um paciente que concorda com os cuidados paliativos e busca a sensação de conforto não só físico, mas na perspectiva psicossocial, pode fazer com que Amanda se sinta em desrespeito consigo mesma, enquanto profissional, tendo a sensação de perder tempo por realizar uma ação que não lhe dará o prazer de acompanhar a recuperação do paciente sob seus cuidados. Mergulhada nas suas sensações, onde ela ainda reconhece a necessidade de maior apropriação sobre atuar na unidade de cuidados paliativos, Amanda pode estar deixando de experienciar o prazer de possibilitar bem estar, o que, também, faz parte da sua atuação enquanto profissional de saúde junto ao paciente.
Dessa maneira, Amanda pode estar tão presa no incômodo que sente diante das atribuições que envolvem os cuidados paliativos, que pode não estar conseguindo se dar conta de como é possível a sua ação gerar conforto, alívio, satisfação ao sujeito doente. Bem como pode não estar se dando conta de que o retorno dos incômodos se relaciona, não só às atitudes do paciente, mas à progressão da enfermidade, o que permaneceria constante, independente dos seus esforços para contê-los. Olhar para esse discurso desperta em nós uma preocupação com o modo como os sujeitos que experienciam os cuidados paliativos estão sendo amparados, acolhidos, ou não os sendo.
Não é fácil ser uma enfermeira
Portanto é importante refletirmos sobre a área de atuação do enfermeiro que é complexo e multifacetado e requer constantes atualizações respaldadas no campo do saber científico. Desta forma a prática da enfermagem baseada em evidências consiste na melhor tomada de decisões fundadas no conhecimento científico, que visa obter os melhores resultados terapêuticos para a prática assistencial. “Emerge a necessidade de pesquisas que comprovem a efetividade das intervenções atuais, tornando-as mais confiáveis.”. Com relação aos cuidados paliativos a prática baseada em evidência leva em conta o quadro de adoecimento incurável ou progressivo do paciente, as estratégias terapêuticas que visam promover conforto e alívio do sofrimento atentando para não acelerar a vida e não adiar a morte, o engajamento da equipe multidisciplinar para promover uma assistência integral e completa para o paciente e família, integrar o cuidado voltado para as necessidades psicossociais do paciente e família no que tange aspectos culturais, espirituais e pessoais, aspectos esses que são essenciais e devem ser respeitados, pois são essas características que forma o sujeito e o torna humano.