O presente trabalho fundamenta-se nos princípios teóricos-metodológicos da Sociolinguística Variacionista a fim de realizar uma análise da variação na concordância verbal junto à 3ª pessoa do plural no PISM, fenômeno selecionado para o estudo. Para tal, utiliza-se o aporte teórico da Teoria Variacionista , que apresenta como proposta principal uma concepção heterogênea da língua. Esse referencial teórico tensiona identificar, descrever e interpretar a sistematicidade do fenômeno da variação e mudança linguística, utilizando como objeto de estudo comunidades de fala específicas. A análise da língua, desse modo, mantém-se atrelada aos contextos linguísticos e extralinguísticos em que é utilizada. As relações entre língua, sociedade e cultura observam que as interações dinâmicas sociais permitem ao falante, inserido em um determinado contexto sociocultural, apropriar-se da língua a fim de suprir determinadas necessidades sociocomunicativas. Assim, diversos fatores podem proporcionar o uso ou desuso de uma variante específica, principalmente fatores não linguísticos, como faixa etária, escolaridade, sexo e classe social.
Os estudos elencados na Teoria da Variação
Os estudos elencados na Teoria da Variação compreendem ainda análises relacionadas a avaliação subjetiva a que cada variante é submetida, isto é, quais juízos de valor são atribuídos dentro de uma comunidade linguística.
A pesquisa visa conhecer a realidade sociolinguística do português indígena sateré-mawé falado no município de Parintins, no Estado do Amazonas e busca compreender as implicâncias do efeito do contato linguístico entre as línguas nessa variedade do Português Brasileiro.
O corpus a ser analisado é constituído de amostras de fala vernácula de duas comunidades do povo indígena sateré-mawé: a comunidade Vila Batista e a comunidade Nova Alegria, ambas situadas no município de Parintins, no Estado do Amazonas. O perfil etnolinguístico apresentado por todos os informantes da amostra recolhida é composto por indivíduos majoritariamente bilíngues que apresentam o sateré-mawé como língua materna e o português como segunda língua.
О material de análise em um ambiente descontraído
A sociolinguística laboviana define o vernáculo de uma língua como o principal material de análise, ou seja, para as análises importam a variedade da língua que os indivíduos utilizam em situações informais e não monitoradas de interação linguística. Dessa forma, importa que as entrevistas se constituam de diálogos espontâneos entre o pesquisador e os informantes. Para tal, o documentador deve superar o chamado paradoxo do observador descrito por Labov, que relata como os métodos de entrevista e as gravações tendem a inibir o informante. Tratando-se da recolha das amostras em comunidades indígenas, essa dificuldade tende a ser aumentada devido as diferenças culturais entre o pesquisador e os informantes. Procurando superar esses obstáculos, a amostra utilizada foi construída através da elaboração de 16 questionários sociolinguísticos e de 16 entrevistas do tipo sociolinguístico que compõem o Acervo do Português Vernáculo dos indígenas Sateré-Mawé de Parintins.Transcritas grafematicamente de acordo com a chave de transcrição do Projeto Vertentes do Português Popular do Estado da Bahia (http://www.vertentes.ufba.br/projeto/transcrição), cada amostra apresenta cerca 45 minutos de duração, compondo 720 minutos de entrevista no total. Após a transcrição, as entrevistas passaram por duas revisões segundo a metodologia da sociolinguística variacionista. Os informantes foram distribuídos pelos dois sexos e por quatro faixas etárias: Faixa I: 15 a 25 anos; Faixa II: 35 a 45 anos; Faixa III 55 a 65 anos; Faixa IV: mais de 65 anos. Além do sexo, a seleção dos informantes considerou, ainda, variáveis extralinguísticas como o nível de escolarização de cada falante e se haviam residido fora da comunidade.