Assim percebemos que o preconceito e o desampara estão presentes nessas religiões não institucionalizadas em todo território nacional. São inúmeras as pesquisas que têm sido produzidas para o reconhecimento dessas religiões que, inclusive, contribuem para uma humanidade mais afetiva. Quem sabe o retorno daquilo que a espécie sapiens sapiens tem de mais significativo: a humanidade e a espiritualidade.
Então nos vêm a pergunta: Em que sentido a preocupação com a ecologia muda o posicionamento das religiões institucionalizadas no mundo contemporâneo? É preciso lembrar que esta preocupação atravessa lugares de forma desigual. O mundo cristão transformará as suas práticas litúrgicas no sentido de valorizar o ecossistema? Não trago respostas, apenas algumas considerações a serem pensadas .
Considerações finais
A primeira consideração é a de que, como consequência de séculos de exploração e abusos, restou hoje uma estranha sensação de sermos estrangeiros. Não conhecemos a Amazônia!
A natureza não tem sido considerada como parceira e aliada e, ao que parece, a floresta tem sido vista ora como um obstáculo a ser vencido, ora como simples objeto a ser explorado e destruído. A compreensão de que fazemos parte de um ecossistema e sem ele a vida humana não é possível é um ponto central da problemática ética e religiosa e deve ser assumido.
A floresta amazônica está sendo derrubada de forma acelerada porque, na percepção da sociedade e do governo brasileiro, tem pouco valor, apesar de os ecologistas, os movimentos sociais, os governos de outros países (principalmente europeus), comunidades nacionais e internacionais formadoras de opinião afirmarem o contrário.
Aceitemos com modéstia a consciência de que os homens “estão” na natureza e de que os conhecimentos dela ainda são muito limitados. A consciência do desmantelamento de uma ordem original parece está presente nas representações dos povos originários da Amazônia.
Pelo exemplo dos Kaxinawá penso também que não existe cultura global. O sentido da vida e da morte, fazem parte da perspectiva local. Pela experiência afro-brasileira podemos nos ressignificar.
Precisamos também fazer a autocrítica: o cristianismo, teve uma atitude histórica muito ambígua com relação ao pensamento ecológico e à realidade dos ecossistemas. Tenho consciência que os problemas aqui tratados não são pequenos e simples, ao contrário. Atribuo a cada um deles uma complexidade específica e ao mesmo tempo ressalto a responsabilidade social, que não só advém do poder público, de políticas públicas, mas de cada um de nós. É necessário garantir respeitabilidade e legitimidade as diferenças. Precisamos prespectivar e fazer as pazes com a natureza.