Formação da cultura brasileira

O presente estudo propende à realização de uma abordagem sobre a importância africana para a formação da cultura brasileira, elucidando aspectos culturais como a gastronomia, a música, a religião e a língua. Deste modo, busca-se compreender a vinda forçada, o trabalho compulsório exercido pelos africanos escravizados no Brasil, o qual perdurou por mais de três séculos e deixou grandes sequelas para a população negra do país, e a abolição, para que assim, possamos entender a importância desses sujeitos para nossa sociedade. Para a realização de tal proposta foi efetivado um levantamento bibliográfico mediante a leitura de livros, artigos e teses relacionadas ao tema, sendo encontradas em bibliotecas e endereços eletrônicos. Como referenciais teóricos foram utilizadas obras como “A Escravidão no Brasil” (1988); “A Abolição” (1997) ; “Aspectos da Influência Africana no Brasil” (2005) ,“A Influência Africana na Cultura Brasileira” (2016) . Desta forma, foram alcançados os objetivos, evidenciando a influência, a relevância e a importância africana para nossa cultura.

Palavras-Chave: África; Escravos; Cultura; Brasil.

ABSTRACT

This study proposes to conduct an approach on the African importance for the formation of Brazilian culture, elucidating cultural aspects such as gastronomy, music, religion and language. Thus, we seek to understand the forced coming, the compulsory work performed by enslaved Africans in Brazil, which lasted for more than three centuries and left great sequelae to the black population of the country, and the abolition, so that, we can understand the importance of these subjects to our society. For the realization of this proposal, a bibliographic survey was carried out through the reading of books, articles and theses related to the theme, found in libraries and e-mail addresses. As theoretical references, works such as como “A Escravidão no Brasil” (1988) ; “A Abolição” (1997); “Aspectos da Influência Africana no Brasil” (2005) and “A Influência Africana na Cultura Brasileira” (2016). Thus, the objectives were achieved, evidencing the influence, relevance and African importance for our culture.

Keywords: Africa; Slaves; Culture; Brazil.

1. INTRODUÇÃO

A formação da identidade brasileira, além de passar por um processo histórico, deriva de processos culturais e políticos, sendo resultado de uma miscigenação graças a três matrizes diferentes, que são: a Tupi, a Afro e a Luso. Cada povo possui sua cultura e, por sua vez, uma identidade cultural, ou seja, o sentimento de pertença a determinado grupo.

Analisando o contexto histórico, podemos afirmar que no período de colonização do país havia a presença três identidades culturais distintas que influenciaram na formação da cultura brasileira.
Diante desse debate que elucida a formação do Brasil por duas perspectivas, busca-se com esse estudo, explanar apenas sobre as contribuições dos africanos para nossa sociedade, mediante uma abordagem acerca da vinda destes sujeitos como escravos ao Brasil, a situação em que padeceram em nossa pátria e, por fim, sua grande importância para a formação da cultura brasileira.

Estatísticas da população brasileira e suas vulnerabilidades

Consoante aos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2015), os negros totalizam 54% da população brasileira, sendo assim, a maior parcela. A pesquisa ainda mostrou que 74% dos negros são pobres. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA (2017), a população negra é 37% mais vulnerável a exclusão social e a pobreza, quando comparada aos brancos. No ano 2000, os dados eram de 49% mais vulneráveis em critérios de Trabalho, Capital Humano e Infraestrutura. Em 2010, os resultados caíram cerca de 1%, totalizando 48%, já no ano de 2015, chegou-se aos 37%.
Outro fator que corrobora a condição de vulnerabilidade social da população negra no Brasil são as análises publicadas no Atlas da Violência (IPEA, 2019), as quais afiançam que em 2017, 75,5% dos homicídios possuíram como vítimas os negros. Compara que de 100 homicídios no Brasil, 71 pessoas negras morrem, sendo dados constantes. Pesquisadores como Daniel Cerqueira et al. (2019) estimam a partir destes dados, que a população negra possui 23,5% de mais chances a serem assassinadas quando comparadas a outras etnias.
Assim, trabalhar uma temática como essa faz-se de suma importância e urgência, para que doravante a reflexão e a conscientização dos brasileiros acerca da importância dos africanos para nossa cultura, possamos cooperar para uma melhoria na condição de vida destes indivíduos “esquecidos” pelos órgãos governamentais.
Ponderando o exposto é que emana a problemática dessa pesquisa, ou seja: deslocados da África para o Brasil na condição de escravos, como os africanos submissos e desprovidos de direitos se tornaram tão importantes para a formação da cultura brasileira?
Em suma, nosso objetivo geral incide em analisar a importância africana para a formação da cultura brasileira. Ademais, designaram-se como objetivos específicos, os seguintes:

 Elucidar a vinda forçada, o trabalho compulsório exercido pelos africanos escravizados no Brasil e a abolição;
 Identificar a contribuição dos africanos ao Brasil, no tocante a gastronomia, música, religião e língua.

Para alcançarmos nossos objetivos supracitados, empregamos aqui, o método dedutivo, bem como a análise bibliográfica por intermédio de uma pesquisa qualitativa, de caráter exploratório, utilizando-se amplamente de um referencial teórico-conceitual. Neste seguimento, utilizamos da historiografia pertinente à escravidão no Brasil e a contribuição africana para nossa cultura, bem como de dados e referências bibliográficas relacionadas a todo esse sistema escravagista que possibilitou a entrada dos africanos no Brasil.

Nessa conjuntura, o estudo respaldou-se nas concepções de diversos autores, como os historiadores Carlos Eugênio Líbano Soares (1997), Marcelo Santos Rodrigues (2009), e Álvaro Pereira do Nascimento (1999/2010/2016), e dentre outros teóricos que se destacam nessa temática. Estas fontes documentais são disponibilizadas em determinados endereços eletrônicos e bibliotecas.

2. A ESCRAVIDÃO DOS AFRICANOS NO BRASIL

Além de sua relevância no cenário econômico colonial, constata-se a importância do escravo africano na formação da cultura brasileira. Assim, propensos a explanar sobre as contribuições dos africanos para nossa sociedade e, por sua vez, para a formação de nossa cultura, é imprescindível ressaltar a vinda desses sujeitos ao país, assim como a condição em que foram submetidos, bem como o processo que lhes concedeu a tão sonhada liberdade.

Consoante determinadas “teorias” que antecedem a abolição da escravidão no Brasil, como a do antropólogo científico e médico, defendia-se que os negros eram ponderados como seres racionalmente inferiores aos brancos, difundindo a concepção de que o tamanho e a forma do crânio dos mesmos “corroboravam” que constituíam uma raça de escassa inteligência. Diante destas presunções, os negros padeceram ao longo do tempo com a supressão de seus direitos fundamentais e com o processo que os submeteram a escravidão.

De acordo com o historiador, “a escravidão se caracteriza pela sujeição de um homem pelo outro, de forma completa”, ou seja, além de possuir propriedade sobre determinado indivíduo, o senhor controla até mesmo os anseios de seu escravo. Este fenômeno perdurou por séculos no Brasil, tendo como sujeito deste processo, o negro africano.

De acordo com a historiadora e antropóloga , a utilização do africano como mão de obra concebia-se mediante a sua “inquestionável inferioridade e submissão” . A autora reitera que, “o índio preguiçoso e indolente teria sido substituído pelo negro dócil e já habituado à escravidão, na medida em que era escravizado na África” . Desta forma, a escolha do escravo africano se deu por um conjunto de fatores, sobretudo, ponderando as dificuldades na escravidão dos nativos. Em relação aos indígenas, estes possuíam melhores condições de fuga, devido ao conhecimento obtido por eles, referente ao território. Assim, evadiam-se com mais facilidade dos colonos, os quais pouco conheciam acerca das matas naquele período. Ademais, constata-se ainda a oposição dos jesuítas à escravidão indígena, bem como a vulnerabilidade dos nativos mediante as doenças desencadeadas pelos colonizadores e os lucros obtidos com o tráfico de escravos africanos no outro lado do Atlântico.

Aludindo ao estereótipo de “inferioridade e submissão” destacado por Schwarcz, salienta-se que era respaldado pela ciência que colaborou com a estigmatização por meio das teorias raciais. Citando os estudos de Nina Rodrigues, Schwarcz revela que o mesmo entendia a sociedade como “um corpo que podia ser conhecido, assim como o próprio corpo humano” /A autora complementa, que no Brasil, “particularmente”, o negro apareceu caracterizado antes de tudo enquanto “expressão de sua raça” . Ela continua afirmando que era uma “imagem absolutamente negativa do homem de cor perante os outros tipos raciais que compunham a população brasileira”.

Inúmeras teorias e fatores contribuíram para a vinda e escravidão dos africanos no Brasil, até mesmo aquelas concepções que idealizavam este processo como uma forma de salvação dos negros.

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