Medicina e saúde

Sabemos que a enfermagem é voltada para os cuidados da área hospitalar em geral. Mesmo durante a graduação, o papel do enfermeiro diante da saúde mental é pouco abordado. Sendo assim, nesse trabalho abordaremos assuntos que entendemos ser pouco comentados na área. Para tanto, o presente trabalho inicialmente disserta sobre as representações sociais de modo geral, saúde mental e suas possíveis interações com o campo laboral do enfermeiro.

As representações sociais são um conjunto de modalidades em que abrange explicações, ideias e manifestações do comportamento humano, no qual os conhecimentos teóricos podem ajudar a entender a relação e a comunicação social de determinados grupos de indivíduos, sendo primordial para demonstrar as opiniões ou atitudes sobre determinadas situações, de acordo com suas crenças, para que possamos viver em sociedade de forma harmoniosa. Por conseguinte, as representações sociais podem ser entendidas consoante o contexto social, contribuindo assim para o estudo das mesmas.

Moscovici foi um autor muito significativo nas representações sociais, pois colaborou com grandes obras para a Psicologia. Uma de suas principais marcas era a sua preocupação em analisar as perspectivas e as ideias do senso comum no qual as pessoas colocavam em prática as suas formas de pensar e requisitos de suas autonomias.

Idéias sociais

As representações sociais são constituídas pelas percepções do sujeito e não são facilmente modificadas por novos conhecimentos, possuindo forte influência do contexto em que são formadas. A partir deste fato é possível depreender o quanto de subjetividade existe no modo dos sujeitos verem e representarem, no campo deste trabalho, o processo saúde-doença.

O próprio conceito de saúde vigente afasta a possibilidade de se pensar nas características subjetivas dos sujeitos. Ora, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), “A saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não consiste apenas na ausência de doença ou de enfermidade” (GAINO et al, 2018). Deste modo que o que a OMS preconiza é que uma boa saúde não só consiste na ausência de doenças e enfermidades, mas como um conjunto de fatores que influenciam diretamente no bem-estar e na qualidade de vida emocional e cognitiva de um indivíduo, como alimentação, prática de atividades físicas e até mesmo o acesso ao sistema de saúde.

Conquanto, podemos pensar que a definição atual de saúde dada pela OMS está ultrapassada e não cabe mais no presente momento, tendo em vista que este é um conceito utópico e irreal, que descaracteriza e desqualifica as singularidades próprias do sujeito contemporâneo. Ademais, refere-se a um ideal de perfeição inalcançável preconizado por conceitos subjetivos como “bem-estar completo”.

Enquanto alguns não se adequam a este padrão de completo bem-estar físico e mental, diversos fatores podem colocar em risco a sanidade mental dos indivíduos, entre eles: rápidas mudanças sociais , condições de trabalho fatigantes, discriminação de gênero, exclusão social, estilo de vida não saudável, violência e violação dos direitos humanos.

Cabe ressaltar que já houve várias contradições de ações e reformulações sobre a loucura, que visam entender e dar sentido aos pensamentos anormais do ser humano. Há vários fatores que interferem no adoecimento mental, onde ocorrem oscilações que podem influenciar diretamente a qualidade de vida cognitiva e emocional do indivíduo no intuito de adquirir uma vida psíquica melhor.

Reforma psiquiátrica

Entende-se que a reforma psiquiátrica veio no sentido de promover ideias para organizar planos de assistência humanizada a pacientes portadores de distúrbios mentais, com objetivo de chegar a um tratamento específico, interdisciplinar e humanizado sobre determinadas patologias. Aos poucos a psiquiatria vem ganhando força contra a luta antimanicomial, contribuindo para a redução de leitos hospitalares. Um fator de expressiva importância neste movimento foram os programas extra-hospitalares que buscam acolher esses pacientes portadores de problemas mentais.

A despeito da psiquiatria no Brasil ser marcada e mal vista por falta de humanização e má qualidade da assistência prestada, vários fatores estimularam as discussões, e estas condutas estão sendo revistas para que possamos abdicar o modelo manicomial, se tornando necessária a assistência de enfermagem humanizada. Ainda que existam barreiras e desafios a serem enfrentados, a psiquiatria holística, que enxerga o paciente como um todo, com necessidades diversas, vem ganhando força por meio da contribuição de especialistas no cuidado em saúde e especialistas em relações interpessoais, não apenas tratamento em interiores de hospitais psiquiátricos, como também práticas de higiene, supervisão de medicamentos prescritos e necessidades psicossociais, mas que também possam desenvolver suas habilidades técnicas e terapêuticas através da assistência humanizada e interdisciplinar.

Em 2001 foi aprovada a Lei 10.216, onde começaram a ser criados os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), com dispositivos estratégicos para estruturação da rede de atenção em saúde mental, o que facultou a organização de uma rede substitutiva ao Hospital Psiquiátrico no país, mas que ainda enfrentam grandes dificuldades em suas implementações e atuações, colocando em prática as propostas feitas pela reforma psiquiátrica, não só para os portadores de transtornos mentais, como também aqueles que sofrem de alguma dependência química.
O transtorno mental atinge grande parte da população, independente da raça, condição social ou religião do indivíduo. É notório que os mais atingidos serão os de classe mais desfavorecida de recursos financeiros, pois na maioria das vezes nem serão assistidos por profissionais da saúde.

O objetivo da saúde mental visa não só minimizar o problema, mas buscar o tratamento mais adequado para tal enfermidade, com profissionais dotados de conhecimento técnico-científico, para explicar como é imprescindível a participação da família na reabilitação desse paciente, não somente no cuidado diário, mas também na construção de relacionamentos interpessoais saudáveis, deixando de lado os tabus e preconceitos, tanto no convívio familiar como em todos os níveis de relacionamento.

Durante o curso de enfermagem, os alunos são orientados a cursar uma disciplina obrigatória ligada à saúde mental, na qual são desenvolvidos conteúdos voltados para o conceito de reforma psiquiátrica. Embora já tenha passado por diversas reformas curriculares, se faz necessário romper paradigmas para adquirir conhecimentos e habilidades para que assim os estudantes estejam capacitados a lidar com pacientes portadores de transtornos mentais.

Сonclusão

Conclui-se que a enfermagem vem desempenhando um papel fundamental em todas as etapas do processo do cuidar. Vale a pena destacar que o profissional de enfermagem desempenha importante responsabilidade na manutenção da saúde. Mesmo sabendo que o caminho a ser trilhado demanda bastante esforço por parte dos profissionais, pois lidam com incertezas e desafios encontrados na área, o intuito é fazer dessa experiência um exemplo de doação e comprometimento que se espera nesse caminhar. A assistência de enfermagem tem como entendimento a melhora na qualidade da assistência prestada aos portadores de transtornos psiquiátricos .

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