A peripécia de Inês Pereira

A peripécia de Inês Pereira escrita por Gil Vicente, na qual retrata a desejo de uma criada de classe média portuguesa do século XVI. Desafiado por aqueles que duvidavam do seu engenho, Gil Vicente concorda em compor uma peça que comprove o ditado “Mais quero asno que me leve, que cavalo que me derrube”.
Todos os personagens desta farsa visam a crítica social, por certo são chamadas personagens tipo.

Acreditando que a atitude da protagonista expressando a parte de seu discurso simboliza os valores de um mundo em transição, propiciando uma reflexão acerca das mentalidades medievais e pré-renascentista, propondo uma análise do auto em questão à luz dessa transição, em seus aspectos histórico, social e linguístico, no olhar desse escritor situado entre dois mundos, sobretudo no que se refere ao papel da mulher.

Originalmente concebido como o desenvolvimento dramático do provérbio “Mais quero asno que me carregue que cavalo que me derrube”. Trata-se de uma sátira com intenção moralizadora, apresentando traços de uma comédia de caráter e de costumes com tipos bem definidos. Além de explorar a dicotomia ser / parecer, o texto reflete sobre o momento histórico, na medida em que mostra a decadência da nobreza – um cavaleiro sem posses – e a ascensão de uma povo pré-burguês, na figura do parvo Pero Marques.

Discurso do personagem principal

A fala da protagonista é marcada pela amargura e pela revolta diante de um trabalho que lhe é odioso, sensações acentuadas pelos termos tormento, cegueira e canseira, refletindo o tédio presente em sua vida. Sua fala é repleta de expressões que sugerem uma crítica à falta de perspectivas para a mulher da época. Seu desencanto diz respeito, principalmente, à estagnação que vitimava as moças de então.

Enquanto Inês simboliza a renovação, as demais personagens femininas representam a perpetuação de um pensamento ainda marcado por um ranço medieval. Expressivos são os conselhos dados à filha, demonstrando que os atributos femininos desejáveis então eram aqueles ligados à passividade e à submissão: falar pouco, não rir, não encarar e olhar para baixo, numa atitude subserviente condizente com a misoginia da época.

“Antes quero asno que me carregue do que cavalo que me derrube”. Constitui a síntese estrutural do auto, e a dicotomia que atravessa o texto metaforiza a transição da sociedade medieval para a renascentista. Gil Vicente, um homem situado entre dois mundos, soube como poucos escrever a história de uma sociedade ainda guiada por um pensamento religioso e medieval.

Farsa, pois o asno não é melhor do que o cavalo mas, tornar-se preferível, porque não oferece perigos cobria aos poucos tão mais valiosa quando assinada pelo homem.

A leitura do fragmento confirma que o Humanismo, embora dirigido a um público palaciano, adota alguns padrões do discurso popular, como se observa nos quatro últimos versos. Cômica, pertencente ao Humanismo português, no qual Gil Vicente, de forma sutil e irônica, critica a sociedade mercantil emergente, que prioriza os valores essencialmente materialistas. As principais características do humanismo é a valorização do ser humano, com o advento do pensamento antropocêntrico (homem no centro do mundo) no período renascentista.

 

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