Crianças e adolescentes com transtornos mentais

Estudos apontam o aumento da prevalência de crianças e adolescentes com sofrimento psíquico que necessitam de cuidados psicossociais. Segundo Polancyzk (et al., 2015), a prevalência mundial de transtornos mentais na infância e adolescência é de 13,4%, entre eles, o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) está presente em 3,4% dos casos. No Brasil, a prevalência de 13,2% de diagnósticos de transtornos mentais com início na adolescência é de 15,6% entre os meninos e 10,7% entre as meninas, entre os mais comuns, o TDAH, 4,0%.

Couto e Delgado (2015) apontam que a Reforma Psiquiátrica Brasileira significou para a infância e adolescência, a superação da desassistência e da ausência de modelos ou projetos de cuidado que amparassem ações cidadãs e não segregadoras. Dessa forma, os princípios estabelecidos para a Política Nacional de Saúde mental Infantojuvenil estão ancorados em uma base ética e na lógica do cuidado, considerando a criança e adolescente como sujeitos de direitos. Entre outros princípios aponta-se o acolhimento universal, o encaminhamento implicado, a construção permanente da rede e do território e a intersetorialidade na ação do cuidado.

Rede de serviço social psicótico

No caminho para o fortalecimento da Política Nacional de Saúde Mental, aponta-se a Portaria nº 3088, de 23 de dezembro de 2011, do Ministério da Saúde, que instituiu a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) e propôs a organização dos serviços de saúde de forma integrada, articulada e efetiva, por meio da ampliação e diversificação das ações e equipamentos de saúde, com a garantia do acesso universal, ofertando cuidado integral com qualidade e assistência multiprofissional.

A RAPS visa ampliar o acesso à atenção psicossocial, garantir a articulação de pontos de atenção à saúde, no âmbito do SUS e implementar o cuidado em saúde integral – com diferentes graus de complexidade –, favorecendo maior integração social, autonomia, protagonismo e participação dos seus usuários. Seus principiais componentes são os pontos de atenção básica em saúde, atenção psicossocial especializada, urgência e emergência, residencial de caráter transitório, hospitalar, estratégias de desinstitucionalização e reabilitação psicossocial. Ressalta-se que a Portaria n.º 3.588, de 2017 incluiu os serviços ambulatoriais multiprofissionais de saúde mental, com o objetivo de ampliar e garantir o acesso à população.

Portanto, um dos maiores desafios para a Saúde Mental é a construção de uma política voltada para a população de crianças e adolescentes que considere suas peculiaridades e necessidades e que siga os princípios estabelecidos pelo SUS, oferecendo uma rede ampliada de atenção em saúde mental pautada na intersetorialidade e corresponsabilidade de todos atores envolvidos.

Couto, Duarte e Delgado (2008) ressaltam que existem especificidades na atenção à saúde mental de crianças e adolescentes que não podem ser contempladas apenas com a ampliação de serviços de saúde mental, mas devem ocorrer de forma concomitante com a expansão dos diferentes serviços que compõe a rede de cuidados no âmbito da saúde, educação e assistência como estratégia de superação dos desafios no cuidado às crianças e adolescentes.

Práticas de cuidados diários

Nesse sentido, a articulação dos serviços de saúde mental com a atenção básica visa práticas cotidianas de cuidado, entre elas, o acolhimento, a formação de vínculos terapêuticos, a atuação em equipe e no território, a integralidade do cuidado e responsabilização pelas ações, o trabalho em rede e a reabilitação psicossocial que são condições fundamentais para a construção de cuidados entre estas políticas e que apontam para as condições de efetivação das diretrizes da Política de Saúde Mental.

Estudos ressaltam a dificuldade de articulação entre os serviços de atenção mental e os serviços de atenção primária, entre os fatores identificados aponta-se a pouca visibilidade dos sofrimentos e angústias dessa população e suas famílias , a manutenção da lógica biomédica de cuidado  e a falta de treinamento dos profissionais.

Nesse contexto de atendimento às demandas de saúde mental, as famílias de crianças e adolescentes com TDAH são inseridas em diferentes dispositivos da assistência à saúde mental, entre eles, os serviços ambulatoriais dos Hospitais Regionais, o Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil (CAPSi) e a atenção primária, conforme a organização de cada Estado e os recursos disponíveis.

O TDAH é um transtorno do neurodesenvolvimento definido por níveis prejudiciais de desatenção, desorganização e/ou hiperatividade-impulsividade, apresentando maior evidência com o início da escolarização devido ao prejuízo no desempenho acadêmico (APA, 2014). O tratamento para pessoas com esse transtorno envolve o manejo farmacológico, intervenções psicossociais, bem como, o treinamento dos pais.

É essencial utilizar uma abordagem terapêutica que inclui diferentes saberes profissionais para o cuidado do adolescente e sua família, visando garantir melhores condições de desenvolvimento e diminuição dos prejuízos relacionados ao desenvolvimento cognitivo e social ao longo da vida. No entanto, a classificação na RAPS do TDAH como um transtorno mental leve e que deveria ser acompanhado nos serviços de atenção primária com o matriciamento dos serviços especializados de saúde mental impõe alguns desafios para o acesso à saúde e que muitas vezes resulta em desassistência ou assistência fragmentada.

Brown e Kennedy (2018) apontam que a intervenção mais importante é a educação da pessoa e de sua família para a compreensão do que é o TDAH, como ele impacta o indivíduo, visando minimizar o preconceito e as ideias equivocadas que podem prejudicar o tratamento. Os autores também ressaltam que essa intervenção deve ser contínua para superar as preocupações que se modificam conforme a pessoa encontra novos desafios e atravessa os estágios de desenvolvimento ao longo da vida. Portanto, ao considerar esses aspectos, é importante identificar como os sintomas de TDAH influenciam no convívio da pessoa no contexto familiar e como os serviços de saúde mental infantojuvenil podem favorecer às famílias condições ideais no cuidado durante a adolescência.

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